A Prisão do Juvenal

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A Prisão do Juvenal

A Prisão do Juvenal 2 O Juvenal está preso! 

Vejamos como foi o fato, segundo…

(Segundo a Polícia) Juvenal Batista, branco, 32 anos, domiciliado nessa cidade. Na manhã do dia 23/11, às 10:32 horas, aproximadamente, dirigiu-se ao mictório da empresa para a qual trabalhava.

(Segundo seus colegas) – A gente sempre aproveita a hora do café para dar uma passadinha no banheiro. A turma inteira aparece pra um papinho. Sabe como é, costume. Naquele dia o Juvenal chegou, estranhou o silêncio da turma, percebeu e estranhou a presença do seu Hilton, o diretor da fábrica.

(Segundo a Polícia) – Ao se deparar com o senhor diretor, Dr. Hilton, o meliante tratou de insuflar sues colegas contra a vítima.

(Segundo seus colegas) Juvenal sempre foi brincalhão, expansivo. Deve ter achado engraçado ver o chefão naquele banheiro. Ele tava “de boa” e perguntou o que o manda-chuva estava fazendo por lá. Mas falou “de boa” mesmo. Ele nem falou com o homem, só agitou a cabeça. Seu Hilton, só tinha ido lá para dar uma mijadinha mesmo. Estava se arrumando para ir embora quando percebeu Juvenal olhando pra ele.

(Segundo a Polícia)Não contente com o constrangimento provocado o agitador passou a fazer provocações diretas, inquirindo sobre a presença da vítima no interior daquele recinto.

(Segundo seus colegas) – A gente nem percebeu direito como começou o papo do Juvenal com o chefão. Ele deve ter cumprimentado o homem, perguntou de bobeira o que ele fazia por ali. O cara riu, falou que não era inspeção, era só uma mijadinha. Ele até brincou dizendo que a fábrica era dele e ele usaria o banheiro que quisesse.

(Segundo a Polícia) – Não se perturbando com as provocações, a vítima procurou responder ao agressor fazendo-se respeitar.

(Segundo seus colegas) – A turma não gostou muito da resposta do homem. A fábrica podia ser dele, mas aquele era o banheiro dos empregados do chão de fábrica. É um reduto nosso, sabe? Foi ai que todo mundo começou a prestar mais atenção na conversa. O Juvenal também não deve ter gostado da resposta. Mas chefe é chefe e pra não complicar as coisas o Juvenal disse num sorrisinho amarelo que tava tudo bem e que os companheiros se sentia honrado com a presença dele.

A Prisão do Juvenal 4(Segundo a Polícia) – Numa atitude discriminatória o delinquente passou da zombaria ao deboche. A vítima tentando minimizar as proporções do incidente retirou-se prontamente do local.

(Segundo seus colegas) – O homem saiu, o pessoal ficou ligado na conversa deles. Uns dizia que o “poderoso” tinha saído bronqueado. Outros falavam que o Juvenal tinha sido grosso. O Zé gordo perguntou: – Afinal, tá certo o homem mijar aqui? Juvenal respondeu que tava tudo em cima e não achava que o chefão tinha saído na bronca. Todo mundo prestava muita atenção no Juvenal que tinha sido o representante da categoria na negociação da última greve.

(Segundo a Polícia) – Portador de um passado pouco recomendável, o agitador aproximou-se de outros perigosos anarquistas para consubstanciar uma nova e perigosa crise interna. O refeitório da empresa, desvirtuado de suas finalidades, foi usado como recinto de confabulações.

(Segundo seus colegas) – Durante o almoço o Juvenal assuntou com um, com outro. Queria saber a opinião do pessoal, se tinha pegado mal, se poderia ter irritado o homem. Tava tudo sereno quando o Juninho, um carinha que trabalha lá no escritório falou, parecendo discurso.

“Gente, abram os olhos, mas é claro que o patrão não deve urinar no banheiro dos operários. Vejam de outra forma. A fabrica é dele, lógico o banheiro também. Mas ele faz discriminação. Algum dia ele permitiu ou permitirá que um operário use o banheiro privativo do gabinete dele? Quem daqui conhece o gabinete desse homem. Usar o banheiro de vocês significa que ele quer o privilégio de ter um banheiro só pra ele e também quer deixar claro que os operários nada têm de seu. Além disso, urinando no banheiro de você ele faz o que a classe dominante sempre faz com os proletários, buscam a exploração e a opressão de toda e qualquer forma. No mínimo mijando lá ele aumenta a porcaria que aquele esgoto vai ter que transportar. Aumentar a porcaria aumenta a possibilidade de entupimento. Se entupir ele arruma, mas enquanto vocês sofrem com o problema o banheiro dele estará lá perfeito”.

(Segundo seus colegas) Silencio na galera. Depois de algum burburinho tava todo mundo dando força pro Juninho. Rolou o salve. – Patrão é patrão, mas no nosso, não!

(Segundo a Polícia) – Agora convulsionados por ativistas extremistas cujas identidades estão sendo averiguadas, o bando conduzido pelo agitador Juvenal promoveu uma sessão conspiratória. A primeira violência planificada foi a produção e afixação de um provocativo cartaz que descriminava a freqüência as dependências sanitárias da empresa.

(Segundo seus colegas) – Ali mesmo no almoço foi falado em fazer uma tabuleta. Coisa pouca, só pra organizar as coisas. Era assim: Banheiro dos operários, só dos operários. Foi o Luizinho quem desenhou a cartolina. Juvenal nem tava nessa. Comeu corrido pra ter tempo de pagar uma conta. Quando ele voltou foi pro banheiro. Parou pra ler a placa. Ele sempre incentivou que todos deveriam participar pra que as coisas melhorassem sempre. A turma de gratidão por aplaudiu.

(Segundo a Polícia) – Dr Hilton, a vítima foi avisado da afixação da provocativa peça e foi até as citadas instalações sanitárias, se certificar da afronta. No recinto, com educação e urbanidade pediu explicações.

(Segundo seus colegas) – O homem chegou rasgando, deparou-se com o cartaz e perguntou sobre a autoria. Ninguém miou. Alguém bateu pro Juvenal que o homem tava de novo no banheiro e foi pra lá. O homem trovejando berrou pra que o Juvenal retirasse o cartaz.

(Segundo a Polícia) – Exercendo as prerrogativas do seu cargo, Dr. Hilton a vítima solicitou a retirada da abusada peça. Sem sucesso, na tentativa de preservar sua autoridade Dr. Hilton, viu-se compelido a demitir, a bem da ordem, o agitador Juvenal.

(Segundo seus colegas)O homem humilhou todo mundo e destratou o Juvenal. O Juvenal disse que ele mesmo seu Hilton havia colocado uma placa igual lá no refeitório. Tinha um reservado e na porta um cartaz: Refeitório da Diretoria. O homem revidou dizendo que a diretoria merecia ter uma sala onde pudesse comer em paz. Juvenal disse que Ra tudo a mesma coisa que se eles não queriam se misturar tava tudo certo. E que por causa de um xixizinho dele não tinha o direito de demitir ninguém. E que demitido por demitido não iria tirar cartaz nenhum, até porque não tinha sido ele que havia colocado lá. Ai o Juvenal enraivou de vez, disse que o último xixi que faria na empresa seria lá naquele banheiro do gabinete do diretor.

(Segundo a Polícia) – Numa afronta inominável o agitador se dirigiu resoluto para a sala da diretoria. Foi seguido por boa parte da quadrilha. Apesar dos pedidos conciliatórios de muitos funcionários, o bando seguiu e tomou de assalto a ala da diretoria.

A Prisão do Juvenal 5(Segundo seus colegas)Ninguém queria perder, uma pá de gente foi atrás do Juvenal. O pessoal do escritório se encolheu na cadeira. Seu Hilton fazia o maior escândalo. Juvenal não falou nada, botou a ferramenta pra fora e começou ali mesmo no carpete da sala do homem fez o pipi mais importante da sua vida

(Segundo a Polícia) – Consumando suas intenções o agitador negou-se a Responder as indagações da vítima, Dr. Hilton que indagava sobre sua satisfação.

(Segundo seus colegas)O homem tava maluco, parecia que iria explodir. Ai ele funicou tudo. Ficou insistindo que o Juvenal dissesse se ele estava satisfeito. Quando ele perguntou se o Juvenal queria mais alguma coisa o Juvenal devolveu. – Dava pro senhor dar uma chacoalhadinha? Putíssimo ele pegou no telefone e gritou com a segurança. Os homens de preto chegaram e foi um empurra-empurra pra todo lado. Virou briga. Os gorila desceram o pau.

(Segundo a Polícia) – Em nome da manutenção da ordem a vítima Sr. Hilton pediu o apoio da segurança para desimpedir a ala da diretoria e conduzir o meliante para fora do estabelecimento. Infelizmente os agitadores apelaram para força física e foi registrado contato físico.

(Segundo seus colegas) –  Juvenal berrava pedindo pros gorilas deixar a gente em paz. Dizia que estava saindo.

(Segundo a Polícia) – Com a única intenção de intimidar e colocar ordem no recinto, os membros da segurança foram obrigados a efetuar alguns disparos para o alto.

(Segundo seus colegas) – Sem pensar duas vezes, sem noção os caras mandaram bala. Coisa de maluco. Ninguém de nós vem trabalhar armado. Era correr e se proteger. Algum viu e gritou apontando que o Benedito tava caído. Tinha sangue debaixo dele. Não foi pancada, foi bala.

A Prisão do Juvenal 3(Segundo seus colegas) – Nós tamos de greve. Ninguém volta enquanto não soltarem o Juvenal. Vai ter barulho forte se eles não pararem de dizer que foi o Juvenal quem atirou no Benedito. Enquanto não soltarem o Juvenal, ninguém volta.

Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

1 Comments

  1. Lúcia Augusta Pereira França disse:

    Tão verdadeiro e comum!! Isso acontece todos os dias, em qualquer ambiente, existe sempre os que detém o poder e se acham acima do bem e do mal!!!

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