As Virgens e a Política

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As Virgens e a Política

        Quatro homens conversavam, a idade variava pouco, todos estavam na casa dos 50, ou mais. O tempero da conversa era a santa e inspiradora cerveja. O cenário uma mesa de canto num bar como tantos.

         A política nacional estava sendo esmiuçada.

         O mais comportado deles era descrente de qualquer parlamentar e governante e expressava certo conformismo. Ontem era assim, agora está sendo e amanhã também será. Não haverá mudança. Eles, os políticos, farão muito por poucos e pouco por muitos.

         O quarto elemento praticamente concordava com tudo e com todos. Via, de maneira talvez conveniente, um tanto de razão na opinião dos companheiros.

         O protagonismo ficava por conta de uma dupla que concordava sobre a cerveja mas antagonizava em política.                                                                                                                        Um deles era saudoso dos governos anteriores.  Citava vários coronéis da política atribuindo a eles os melhores feitos e fatos da nossa política. Satanizava e responsabilizava o governo atual por todo e qualquer problema existente. De seca a enchente, passando pelo péssimo performance do seu time, tudo era culpa do governo. 

 

         O outro defendia os atuais mandatários. Relembra o precário estado da nação deixado pelos antecessores. Chama os críticos do governo de incultos e exalta os avanços da atual política.

         Cerveja, cerveja, as vozes foram ficando mais altas, os argumentos mais densos e o vocabulário despencou de nível. Se conversa de bêbado é ruim, bêbado discutindo, pretensamente, em alto nível é pior ainda.

         A coisa perde a graça para quem não está diretamente envolvido.

A portinhola da cozinha se abre, surge uma mulata baixinha, de corpo generoso e semblante sisuso. Ela toma, na marra, a palavra.

                   – Seu Ernesto, Seu Dimas. Do ceis que tão mais quietos não decorei o nome inda não. Ceis são uns chatos. Fica fazendo esse barulho todo. Intupindo os ouvido dos outro. Fazendo o ambiente ficar chato. Onde já se viu.

         A surpresa do sermão não encomendado nem esperado tomou conta de muitos mais além dos quatro debatedores. Todos foram calados com a contundência da verdade revelada.

                   – Seus moços, sô Euclideveriana Pereira, filha de Euclides da Silva e Severiana Pereira. Pereira não é nome trazido da África, é nome do dono da fazenda.

         Minha mãe saudosa mulher muito macha, quando tinha marmanjo discutindo política encerrava essa conversa mole lembrando a verdade…

                – Seu moço no Puteiro não tem Virgem não!

A analogia é válida. Essa não é a negação da política, é uma chamada para reflexão sobre nosso atual momento e a necessidade de repensarmos nossas práticas. Prego contra a transformação da política em profissão, contra o Continuísmo. Prego contra a interferência econômica, contra a hipocrisia, contra a tolerância.

 

Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

6 Comments

  1. Camilo Santos disse:

    …sobre a cerveja mais (?) antagonizava … Mais é o contrário de Menos, então aí fica é o MAS , concorda ??!!!

    • Cako Machini disse:

      Agradeço a dica. Existem vícios de linguagem facilmente transmitidos na escrita. Continue nos prestigiando e sinta-se a vontade para comentar, sugerir, criticar. Vida é movimento, participação, troca…..
      Obrigado.

    • Cako Machini disse:

      Essa ideia da “Mochila de Sobrevivência” é ótima. Resolve muitas questões. Monte a sua.

  2. Carlos A. R. Azevedo disse:

    Achei a piada real porém o comentário final a partir do Prego achei fora de contexto. O contexto da moça me leva a entender a política como uma arte de artimanhas onde a esperteza predomina. Nos remete a dormir de olhos abertos. Mas gostei porque tem uma galera que vai pelo lado do moralismo e fica perdido pq moralismo é uma faca de dois legumes

    • Cako Machini disse:

      Considero o humor a forma mais contundente de expressão. Sou fã incondicional do Nonsense, e venero tudo que se aproxima da ironia.
      Os políticos que hoje são odiados, ou desprezados não vieram de Marte, são parte de nossa sociedade que deve sim ser muito provocada para se analisar e refletir.

  3. Helena disse:

    Gostei muito da leitura . Virei mais vezes conhecer suas histórias. São maravilhosas . Parabéns

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