O Amor é Livre, mas o Sexo é Pago!
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Bakunin morreu!

                                                                                                              

…… Bakunin chega ao inferno

Belzebu estava sossegado tomando uma cervejinha quando foi abordado por Maria Tiririca, uma mineirinha fofoqueira como ninguém e que ganhou esse apelido por dar com a maior facilidade e em qualquer lugar.
– Tá bom que essa folga vai continuar…. (leiam com sotaque, lembrem de pão de queijo, se inspirem, uai!)
– Aqui mando eu!!!  Faço o que quero.
Retruca Belzebu.
– Mas vai ter serviço grosso.  Coisinha linda. Cê num tá assim com vontade de sabê, não….   
– O que a fofoqueira quer contar? Interrompe o grande Imperador dos terços, dos quartos, dos quintos, de todos os infernos…
– Tá chegando ai aquele tal de Bakunin. Sabe quem é? Já ouviu falar? …..Casca grossa….     
– Um russo, um agitador…é esse? Um sujeitinho pretensioso que queria colocar o mundo de cabeça pra baixo?…. Mas já morreu faz tempo. Acho que o lugar dele não deve ser aqui no inferno.
– Ele tá demorando porque não aceitou vir na nuvem expressa. Disse que não anda em veículo que tem divisão de classes. Bastou saber que a nuvem tinha ala VIP e o homem promoveu um quebra-quebra.               
– Deixa ele comigo.   
– Deixo mesmo. Já ouvi dizer que ele não admite pagar por sexo. Tô fora.
………   …………….   ……………….   ……………..
Na terra, Capitalistas, Reis, Imperadores, Senhores Feudais, Padres, Bispos, Marxistas, Socialistas, todos ineditamente juntos ainda comemoram a morte de Bakunin.
E eis que surge nos portões do inferno a aludida figura. Belzebu pessoalmente foi recepcioná-lo.  

– Prazer em vê-lo. Esse não é lugar para qualquer um. Posso ver seu currículo? Claro, um demônio nunca deixa de ser prepotente.  E com o ar arrogante comenta a estória de vida do futuro habitante.
– Prisões, porres, agitação, cadeias, brigas, desrespeito aos padres e políticos que cruzavam seu caminho. Mostrou a bunda pra várias autoridades….Belo currículo!
– Por ter atazanado os políticos eu poderia acusá-lo de desvio de conduta, afinal esse trabalho é nosso. O inferno existe pra isso. Mas por ter agido contra a Igreja e os padres, vou conceder-lhe um benefício especial. O senhor irá para o setor 1. Lá é moleza, os trabalhos forçados são realizados. em dias alternados. A temperatura não é muito alta….Será quase um passeio.  
                                                                           

Dois diabos assistentes conduziram o Sr. Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, para o setor 1.

Dois dias depois Belzebu usava  como pinos alguns espíritos recém chegados para jogar boliche, quando um diabinho fofoqueiro apareceu. Sim porque no inferno não existe notícias, só temos fofocas.
– Senhor das trevas. Salvai-me. Estou em cólicas. Não reparem, o diabinho era bicha.
– O setor 1 está uma zona só. Magina! Aquele bofe barbudo horrendo, aquele tal de Bakunin, organizou as almas num sindicato. Eles dizem que lutam pela diminuição da jornada de penitência. Querem desconto insalubridade. Implantação de sistema de refrigeração. Pode?
– Poderoso?…Me arruma uma tanguinha púrpura…? A bichinha aqui merece….          – Cala a boca Bambi!
–  Ingrato! Aquele barbudo me paga. Transferência para o setor 2. Agora!
Sentenciou Belzebu sem nenhum humor.                                                                                                                Menos de uma semana depois aparece um diabo usando um terninho vagabundo dizendo a Belzebu.
– Tenho aqui informações de grande valia ao senhor e poderíamos negociar essa transmissão sem que meu cliente saiba. Esse era um diabo advogado fingindo ser defensor de Bakunin. Também no inferno se encontra muito advogado querendo levar vantagem em tudo.    Vou economizar os ouvidos de todos e não vou deixar o advogado falar em “Advogues”.
– Não pago, não negocio e retiro as prerrogativas que vocês dizem ter. Fala logo seu rato. Belzebu intimando o diabo advogado.
– Data vênia supremo e eterno senhor absoluto. O setor 2 entrou em greve. Eles exigem equiparação de tratamento com o setor 1. Querem contagem retroativa de tempo em dobro em função do tratamento diferenciado.                                                       – Aposto que essa greve tem nome. Bakunin! Estamos no inferno. Aqui governa o príncipe das trevas. Aqui todos me obedecem. 
Bakunin não para de repetir que o senhor é um capacho, um pelego de Lúcifer. Que se fosse um diabo de dignidade não ficaria servindo nem reverenciando outro capeta. 
– Manda esse bocudo pra solitária. Isola ele. Quero ver ele agitar ficando numa cala de 80 X 80 com 1,40 de altura e sem janela.

Na manhã seguinte.
– Mestre. Peço permissão para recrutar uma tropa de apoio. Pretendo trazer aqueles demônios que ficam no Congresso Brasileiro. Lá só tem fera, diabo  escolado. 
– Tropa extra de diabos? Pra que?
– Não esquenta chefe. É ano eleitoral. Não tem nenhum deputado em Brasília. Não vai fazer falta. É só pra ajudar na transferência do homem. 
– Transferência do homem? Você? um diabo com séculos de prática, graduado em tortura, com estágio no BOPE do RJ, vai querer me dizer que não conseguiu ainda transferir o Bakunin pra solitária? 
– Senhor. Os apenados estão resistindo. Fizeram barricadas. Atearam fogo nas instalações. Nossa brigada não está conseguindo entrar. 
– Usem o que for preciso, mas coloquem esse anarquista de merda na solitária.
No final da tarde volta apavorado o diabo chefe da repressão.
– Calamidade senhor. O inferno está paralisado. Todas as almas estão em greve. A desobediência é total. A ordem está subvertida em solidariedade a Bakunin. Ou o senhor solta ele e recebe a comissão de greve aqui ou isso aqui vai virar um inferno (?!?!).
– Isso é um absurdo!
– E o senhor nem viu ainda a pauta de reivindicações. Eles começam demitindo a sua pessoa, enforcando Lúcifer e deixando de reconhecer qualquer tipo de autoridade.
– Vou ser demoníaco. Tenho uma ideia infernal. Vou mandar esse barbudo pro céu. Ele que vá anarquizar outro território.
………………………………………………………..

Literalmente chutado para fora do inferno, Bakunin é recepcionado por São Pedro que com olhos de censura lê o currículo de seu novíssimo hóspede.
– Esse comportamento anticlerical, que coisa feia meu filho. Essa obsessão por derrubar o governo. Isso não é coisa de um filho de Deus. A seu favor só essa sumária expulsão do inferno. Não sei o que você fez, mas se irritou Satanás, e pela misericórdia Divina eu te acolho.
Enquanto isso no inferno, sem notícias, sem barulho, sem perceber alguma coisa errada, Belzebu fica indócil e curioso sobre o convívio de Bakunin e os santos anjos.
Querendo tudo, mas fazendo ar de quem não quer nada, Belzebu vai até a portaria do céu assuntar.  Olha pras nuvens, consulta o relógio, assobia chega perto da janela do gabinete de Pedro e desinteressadamente pergunta.
– Colega! Muito trabalho?   
– Não. Tudo normal. 
A tranqüilidade de Pedro corrói Belzebu. Que arisca perguntar.
– Eu…mandei um camarada ai pra você… Sr. Mikhail... 
– O velho Bakunin…certamente. Está ótimo. Passou por aqui agora a pouco… 
– Como ótimo? E o comportamento dele? Ele é um militante Anarquista. Um agitador. Não aprontou nenhuma até agora?
– Bakunin é um idealista. Um visionário. Mais compreensão e menos críticas com as almas, colega.   

– Impossível. Quem perseguiu os padres e a Igreja durante toda a vida, agora morto e ai no céu não tenha feito nada que desagradasse a Deus
Pedro que já havia deixado a sua mesa para ficar próximo a Belzebu, sorri, apóia sua mão sobre o ombro de seu “concorrente”, e em tom fraternal diz.
– Meu caro Belzebu, camarada Belzebu, Deus? Deus não existe?                                                                     
……………..                                       …………….

Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

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