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12 de dezembro de 2017

Congonhas

Congonhas - Profeta Daniel

Alguém minimamente sensível. Que tem um ideário político. Que sabe ter olhos e ouvidos abertos para as belezas da vida, deve visitar Congonhas.

Foi lá que o irrequieto, irreverente e talentoso Antonio Francisco Lisboa, eternizado pelo apelido de Aleijadinho materializou o melhor de seu talento.

  Você não gosta de mim, mas sua filha gosta.        Você não gosta de mim, mas sua filha gosta.           

       A forma de deixar mais emputecido um opressor deve ser mesmo fazê-lo saber que a sua filha está (de alguma forma) transando como o oprimido.

       Uso muito uma frase anarquista. Quando a razão enfrenta a força, a força sempre vence. Contra a força, somente a razão não basta.  

       A Arte é liberdade. Mas em todos os tempos ou era a Coroa ou era a Cruz quem patrocinava a arte.

      Com ou sem alguma Teoria da Conspiração. Unanimemente aceito pela comunidade estudiosa, ou não, a forma mais instigante de visitar e apreciar o tesouro deixado pelo Aleijadinho em Congonhas é entendê-lo como um irônico oprimido que usou seu fabuloso talento para através da sua arte ridicularizar as forças opressoras que inclusive financiavam seu trabalho.

Aleijadinho era mulato, bastardo, doente e tinha idéias libertárias. Só falta ficar sabendo que era também homossexual para completar a receita de alguém predestinado para ser descriminado e oprimido.

      A história conta que ele foi “assistente” de alguns mestres. Aceito, mas prefiro acrescer que na sua condição de bastardo mestiço o caminho para algum protagonismo não foi nada fácil.

       Vejam algumas adversidades. Por ser filho de uma escrava ficou sem receber qualquer fração da herança de seu abastado pai. Foi militar por alguns anos,  incorporado no Batalhão dos Homens Pardos. Da mesma forma como na Igreja, os negros também eram segregados no exército.  

      Os versos daquele rockinho lá de cima, estão registrados na autoria de Julinho da Adelaide. Dessa forma Chico Buarque dribla a repressão da censura militar que o perseguia e interditava tudo de sua autoria.  Pouco interessa se é verdadeira a teoria de ter sido uma menção a filha do ditador Geisel que publicamente confessou admiração por Chico. Importa a agressão, a pedra na janela da Casa Grande.

        Os santos tem feições e iconografia repetida e reconhecida. Profetas, quando muito, são lembrados somente pelos nomes. Uma premissa perfeita para o Aleijadinho retratar as lideranças do movimento inconfidente.

      É liberdade poética ou menção direta aos opressores colonizadores, Aleijadinho vestir os soldados romanos usando alguns elementos dos costumes lusitanos? 

      Trago cada um de vocês para discutir essa forma metafórica da arte do Aleijadinho perguntando: O que significa ter sido trocado o pão da Santa Ceia por um mineiríssimo Leitão a Pururuca? Não esqueçam que Jesus era judeu e a cultura judaica proíbe a carne do porco.

 

Os mais críticos, portanto os mais chatos, afirmam que as figuras talhadas por Aleijadinho são disformes, tem proporções equivocadas. Prefiro assumir que a genialidade desse mulato usou até mesmo uma deformação corporal para expressar emoções e sensações. Talvez tivesse ele inspirações Cubistas precocemente.

         Não esqueçam também que o artista padecia de uma doença deformante.

Se os profetas de Congonhas são os lideres inconfidentes, ao se auto-retratar no profeta Amós, Aleijadinho explicita suas convicções políticas e escancara sua rebeldia contra os preconceitos sofridos na própria carne. Em resumo Aleijadinho faz a Coroa Portuguesa pagar por perpetuar uma homenagem aos inconfidentes, e deixar também perpetuado em pedra o elemento tão inferiorizado pelas “elites” da época.

      O êxtase desse mulato irreverente foi ter deixado uma mensagem tão explícita e não ter sido confrontado pelos opressores.

      Sem discutir se Tiradentes era a maior liderança do movimento, ou foi a figura icônica escolhida para pagar a maior parte do “Pato” da ira da coroa, reflitam.

      Aleijadinho assemelhou o profeta Isaías a Tiradentes. E não parou por ai.

      O conjunto arquitetônico de Congonhas, além dos profetas tem uma coisa ainda mais impactante, a Via Sacra e a Santa Ceia que estão guardadas nas capelas. São composições geniais. Na Via sacra o Cristo retratado trás no pescoço as marcas de um enforcamento.

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Nosso trabalho é sobre o verdadeiro Turismo da Terceira Idade. Turismo para Maduros. Turismo para maduros descolados. Um Turismo Racional que considera os interesses, objetivos, condições e disponibilidades dos Maduros. Fugimos dos modismos, dos destinos e atrações previsíveis. Buscamos as coisas curiosas, as coisas típicas, excêntricas. Queremos conhecer a alma, a atmosfera a beleza singular de tudo e de todos.

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Vindo voltando, se renovando

      Estive em Congonhas pela primeira vez há muito tempo. Tinha na época olhos e ouvidos pouco despertos para a arte para política. Li as primeiras linhas sobre a mensagem política cifrada na obra de Aleijadinho, registrei e fiquei com a melhor das expectativas para retornar a Congonhas.

      Já em Congonhas cumpri um dos mais interessantes hábitos que um Andador deve ter. Abri os olhos, os ouvidos e a alma para assimilar o que era dito e sentido sobre o trabalho de Aleijadinho.

      No percurso entre as capelas encontrei um senhor muito conhecedor dessa temática. Ouvi muita coisa interessante, aprendi bastante.

Não sou egoísta, contar mais detalhes não acresceria muita coisa. É frente à obra que tudo fica claro e sensacional. Visitem Congonhas, sejam tão curiosos quanto nós.

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Romaria

   

Bem perto do Santuário do Bom Senhor de Matosinho existe uma edificação com o nome de Romaria. A construção original data de 1740 e sempre serviu como uma imensa pousada popular que      abrigava a população mais pobre dos fiéis que vinham do sertão comemorar as festividades em louvor do Bom Senhor.

Na década de 1960 algum iluminado na administração pública resolveu vender o espaço. Um grupo carioca destruiu quase tudo e não construiu quase nada.

Em 1994 começou a reconstrução do local milagrosamente mantendo as mesmas características arquitetônicas originais.

Hoje ali funciona uma grande estrutura para dar retaguarda as tradições e ao turismo da região.Com destaque para um auditório, o Museu de Arte Sacra, um Museu sobre Mineração e uma Casa de Cultura voltada para a cidade portuguesa de Matosinho.

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*Os Maduros viajam de forma racional, dão tanto valor para o Caminho do que para o Destino, Fazem roteiros e nunca se negam a conhecer as curiosidades, os encantos das cidades menos afamadas que encontramos pelo Caminho.  Quem se decide visitar Congonhas, deve estar fazendo um circuito nas cidades históricas e no mínimo pela proximidade irá também em Mariana e Ouro Preto.

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       Essa guerra entre os artistas e a censura é ampla e eterna

       Como a Coroa e a Cruz sempre foram os grandes patrocinadores da arte é comum vermos os artistas “sacanearem”  seus patrocinadores.

        Por exemplo. Michelangelo retratou na capela Sistina um cardeal com orelhas de asno e tendo seus genitais devorados por uma cobra.

      Na maioria das igrejas barrocas algum guia de turismo lhe chamara a atenção para a eterna polemica do sexo dos anjos. Alguns anjos se mostram masculinos, outros femininos, muitos assexuados e sempre ouviremos aquela história sobre anjos serem talhados com um paninho cobrindo as partes.

       Num outro entalhe, o mestre Aleijadinho apresenta queimando num inferno Dantesco um frade e várias mulheres nuas. Os traços são taxativos: Não há negros nessa sala do inferno que penaliza a luxúria e os hábitos devassos.   

________________________________________________________                        Estivemos em Congonhas em Outubro de 2017                                __________________________________________________________________

Turismo em Congonhas

      Além do Santuário de Matosinho e da Romaria, são atrações intensas e merecem muitas de nossas horas de contemplação. Mas poucos outros pontos em Congonhas são relevantes.

      Nossas Andanças são sempre baseadas na premissa que o Caminho é tão importante quanto do Destino. Dizemos também que escolher um Roteiro é muito mais interessante do que eleger um Destino.

      Congonhas está inserido no Roteiro do Ouro. São 16 municípios geograficamente próximos, interligados pelo fator histórico e em todos se podem encontrar atrativos que envolvam tradição, belezas naturais, patrimônio preservado, boa gastronomia, etc.

       Não cometa o crime de se perguntar “O que eu vou fazer nessa cidadezinha”. Os destinos menos previsíveis guardam surpresas muito positivas. Essa é a diferença valiosa entre Turismo e Andanças. 

Municípios do Circuito do Ouro

Barão de Cocais , Caeté, Catas Altas, Congonhas, Itabira, Itabirito, Mariana, 

Nova Era, Nova Lima, Ouro Branco, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima, Sabará

Santa Bárbara

A distância máxima entre o mais distante desses municípios e Belo Horizonte são 170 Km. Pesquise, leia sobre cada um deles, escolha alguns estabeleça um roteiro e sorria.                      ____________________________________________________

      Bom Jesus de Matosinho, a história dessa veneração

       É contado que no ano 124 foi encontrado nas praias dessa cidade do norte de Portugal um entalhe mostrando uma cruz e Jesus crucificado. A Autoria da peça é atribuída a Nicodemos um dos primeiros cristãos, que havia estado presente a crucificação de Jesus. Fugindo da repressão ele teria jogado ao mar a peça que acabou por aportar em Portugal.

       A cidade de Matosinho desde remotos tempos passou a ser referência na cultuação do Bom Jesus.

       O minerador Feliciano Mendes adoeceu e procurou da fé no Bom Jesus melhora para seus males e determinação para reprogramar sua vida procurando no ingresso a uma ordem religiosa um caminho certeiro para sua salvação. Empenhou seus bens na construção de um templo consagrado ao Bom Jesus. Como essa é uma das mais populares cultuações populares no Brasil, contando também com a arrecadação de esmolas foi possível erguer um projeto grandioso.   __________________________________________________

 O morro não tem vez , e o que ele fez,  já foi demais.                                    Mas olhem bem vocês,  quando derem vez ao morro, toda cidade vai cantar.

       Tom Jobim, 1963. Em alguns momentos era fácil falar em desigualdade social. Depois foi ficando mais difícil. Quase todos que vocês podem considerar “nata da MPB” foram convidados a sair do país, ou tiveram muito do seu trabalho proibido, censurado.                                                                             Por isso abro um sorriso quando vejo um mulato bastardo ou qualquer outro “bêbado equilibrista fazendo irreverências mil pra noite do Brasil”.

         Insisto, não interessa o grau de acerto quanto à teoria da conspiração. Devemos ver a obra de Aleijadinho como um talento a serviço da crítica social.

E nunca se esqueçam.

                        “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”

         Temos hoje um país onde um bando de irresponsáveis parece ter esquecido quanto é cruel um regime autoritário. E o cúmulo dos cúmulos é ver que hoje é a própria sociedade civil que se articula de forma repressora.

         Amo a Luz, venero a Liberdade, me apaixonei pela utopia e me rendo a ironia.

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Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

1 Comments

  1. […] Prefiram fazer um roteiro, visitando Sabará, fatalmente outras cidades históricas mineiras, Congonhas, Mariana, Ouro Preto… Mas valorize sua viagem estando aberto a conhecer cidades menos […]

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