Simpatizo com a pessoa, gosto do trabalho e invejo (de forma saudável) a oportunidade profissional desse grande jornalista Maurício Kubrusly. Esse competente e sortudo sujeito faz (em minha opinião) o jornalismo mais prazeroso. Militou em música durante muito tempo depois passou a percorrer o Brasil e agora o mundo procurando por coisas interessantes. Nada de escândalos políticos, ocorrências policiais, ele persegue o inusitado, o pitoresco, o curioso.  Foi através de um dos episódios de “Me Leva Brasil”, que pela primeira vez ouvi falar de uma cidade chamada Conservatória, conhecida como a Capital da Seresta.

Que nome estranho…!

Na verdade Conservatória é um distrito da cidade de Valença. No final do século XVIIII foi um ponto economicamente importante. Servia de entroncamento ferroviário dos trens que vinham de Minas Gerais com destino a capital do país Rio de Janeiro, para as mais de 100 grandes fazendas de café da região.

                                                                      A explicação mais corriqueira dada para esse nome é a referência que os indígenas da região entendiam aquele excelente clima entre montanhas como um local ideal para se preservarem e se restabelecerem, assim surgiu o “Conservatório dos Índios”.

       Dinheiro traz conforto…!

E no caso dessa região trouxe uma expressiva tradição musical. Seus habitantes nos contam que no final do século 19, o professor Andreas Schmidt tornou um habito de sua vida tocar violino em praça pública. Alguns músicos da região começaram a acompanha-lo e dessa forma Conservatória em 1998 completou 120 anos de serenatas.                 Vejam que coisa curiosa: A história da cidade registra que em 1938 um arrojado fazendeiro da região, Antonio Castello Branco, apoiado na tradição das serenatas, resolveu colocar seu piano de cauda num caminhão, rodar mais de 20 km e cantar sob a janela da sua amada. A tradição das serestas e serenatas ficou consolidada com a criação em 1960 do Museu da Seresta.

Explicando a diferença entre os termos

A definição de Seresta fala em “a música da paixão”. Fazer uma Seresta é reunir músicos e cantores para cantar esse tipo de repertório. O termo Serenata é aplicado quando a reunião de cantoria é realizada ao ar livre, sob o sereno.

Uma experiência única

Na tradição de Conservatória toda noite das sextas e sábados, o museu se abre e a música rola solta até por volta de 22 horas quando o grupo vai para a rua e percorre a cidade cantando.  Quem está pelas ruas vai se integrando ao grupo, como as músicas são tradicionais, praticamente todos cantam, um clima sereno e cada vez mais romântico vai se instalando e você passa horas maravilhosas.  O grupo de cantadores não faz exatamente uma procissão. Como as pessoas se movimentam para se aproximar de quem está cantando, acaba ocorrendo um movimento um deslocamento natural.  O repertorio é ótimo, tudo que é rasgadamente romântico é cantado.

Não percam: Um casario histórico, algumas antigas fazenda recebendo visitantes, um clima ótimo são encontradas (por graça de Deus) em muitos lugares. Mas em Conservatória você tem tudo isso com uma aura de poesia e romantismo vinda da tradição musical.                                                                                                           Experimente! Você vai chegar na sexta, percorrendo a cidade você verá afixado em várias casas placas com letras de músicas românticas. Encontrará vários bares e restaurantes oferecendo música ao vivo e ao ar livre, vai entrar no clima e se verá engajado na serenata.

Infraestrutura

A estrada é boa, existem muitas pousadas (que só funcionam de quinta em diante) com instalações e serviços satisfatórios. A culinária é apenas razoável. A cidade é bem cuidada.

Arte da melhor qualidade

Para os sensíveis, para quem procura e valoriza o trabalho do artista brasileiro, uma experiência imperdível é você conhecer a Casa D’ Arte, ateliê do artista plástico de fama internacional Mario Luis Silva. Não é artesanato é arte da melhor qualidade. Mario trabalha com papel cola e arame construindo figuras típicas da região, violeiros, cantadores, trabalhadores rurais e principalmente arte sacra barroca. Quem vê a peça de longe ou através de fotos demora a acreditar que aquela beleza tem origem em papel amassado. Escolhi uma Nossa Senhora da Conceição de produção do Mario Luiz para presentear a Luna, a mulher de todas as minhas vidas. Obrigado Mario pelo seu trabalho, pela sua arte.

  A Casa D’Arte fica na  Rua Pedro Gomes 26, centro.

Hospedagem

Fomos obrigados a trocar de pousada. Havíamos feito reserva na Pousada D’ Amoras, mas no final da madrugada de quinta para sexta feira tivemos a desagradável surpresa de sermos assustadamente acordados pelo ensurdecemos som de música eletrônica, uma situação incompatível com a atmosfera da cidade. O barulho vinha da academia da pousada. Quando argumentamos com a dona da pousada sobre termos nosso sono definitivamente interrompido pelo absurdo volume do som da academia, fomos tão mal, tão grosseiramente tratados que resolvemos trocar de pousada. O péssimo atendimento dessa senhora teve continuidade na negativa de nos reembolsar de forma completa as outras diárias restantes.

A postagem desse comentário não é uma vingançinha tola, a ideia e prevenir os futuros visitantes sobre comerciantes desrespeitosos.

A cidade é prospera em pousadas interessantes, em poucos minutos estávamos instalados na Pousada Meu Cantinho, um estabelecimento simples que oferece conforto, tranquilidade e onde o dono, na verdade a pousada é uma extensão da sua casa, adora conversar e contar aos hóspedes as estórias da cidade.

Enquanto a tarde não cai e a Serenata não começa.

Conservatória, como toda cidade que experimentou um ciclo de prosperidade, tem um centro histórico com construções antigas. Conservatória é bem pequena, essa mistura de Tradição-Atividade-Vocação que hoje move a cidade não implica em grande expansão urbana, portanto ela tem basicamente o mesmo aspecto de há muito tempo.               Além de um visual esplêndido, nos arredores de Conservatória você pode visitar sedes de grandes e opulentas fazendas. Vá conhecer também o Túnel que chora e a Ponte dos Arcos.                                                                                                                                             E no centro urbano além do habitual comercio de artesanato você convive com a grande vedete do passado e responsável ela prosperidade e importância de Conservatória, a imponente Maria- Fumaça.