Moramos na roça, quando ela sai de casa está Duster como sempre. Duster significa “fazedor de poeira”. Moramos numa estrada não asfaltada isso é inevitável.                                                           Esse jeitão de bravo, de destemido existe, mas não contamina o conforto de um andar macio em qualquer terreno.

Ela acabou de atingir uma marca muito significativa completou 100.000 Km em nossa companhia. E isso aconteceu da maneira que mais nos aproxima, numa Andança por estradas brasileiras.

Vínhamos do litoral sul de São Paulo, Visitamos Iguape, Ilha Comprida e Cananéia. E claro, programamos um roteiro especial e diferente tanto para a ida como para a volta. O odômetro cravou 100.000 subindo a Serra de Paranapiacaba bem perto de Tapiraí.

Ela chegou em 2013, ainda morávamos em São Paulo. Nunca havia acontecido de um carro nosso ganhar apelido. Acho, porém ela foi Duda desde o primeiro momento. Mudamos para São Roque, nos determinamos passar o Outono de nossas vidas viajando e seu nome foi invocado muitas e muitas vezes por ter surgido uma mania, uma brincadeira. Sempre que queríamos propor alguma viagem, dizíamos: – Será que a Duda topa conhecer…… tal lugar? Incrível ela sempre topou.

Parafraseando Vinícius (no Samba da benção)
…….A bênção, Duda, parceira e amiga querida,
que já viajaste tantas canções conosco,
e ainda há tantas por viajar ……………….

E assim ela foi excelente companhia por todo Brasil. Na verdade confessamos existir um triângulo, amoroso. E esse trio conviveu ótimos momentos. Cada qual no seu papel. A Beth supervisionando os mapas, o GPS, e sempre atenta a curiosidades. Eu pilotando sem nenhum esforço. Todos na mais perfeita segurança, desfrutando de muito conforto.

Stress? Nenhum, quer dizer, Duda nunca nos decepcionou ou causou alguma surpresa, muito menos se ressentiu sobre o caminho escolhido. Não que a gente prefira, mas as circunstâncias nos impuseram caminhos nem sempre perfeitos.

Duda já se sentiu charmosa descendo a Serra da Graciosa. Parecia querer dizer que estar emoldurada por Hortênsias lhe fazia muito bem. Fez cara de “nem ligo” quando encarou na subida e na descida as 250 curvas dos 8 Km da Serra do Rio do Rastro, considerada uma das mais desafiadoras estradas do mundo. Foi solidaria quando o vento do Morro da Igreja (SC) nos dava uma sensação térmica de -6 graus.

Se não fosse sua vocação para terrenos difíceis talvez não tivéssemos chegado em Urubici.O GPS nos pregou uma peça e fomos jogados por dezenas de kilometros numa estrada praticamente inexistente onde disputávamos espaço com máquinas de terraplanagem numa terra estupidamente fofa. Na verdade num terreno onde mal haviam retirado a vegetação.

Deu de ombros quando pesquisávamos um caminho em Ilha Comprida e o prestativo caiçara alertou: – Olha, são mais de 10 km de areão! Duda desfilou seu charme pelas praias, atravessou canais e foi em frente.

Seu ótimo espaço interno guarda nossos sonhos e todas as fantasias materializadas que encontramos pelo caminho. Além de bagagem para no mínimo 15 dias de estrada, nossa geladeira, a mochila de sobrevivência e as mudas de plantas que recolhemos pelo mundo.

Atlética, pratica diversas modalidades. Corrida de obstáculos, afinal estamos em estradas administradas por “políticos” brasileiros. Duda é literalmente especialista no “drible da vaca”, já perdi a conta de quantos animais desviamos no caminho. Duda é ótima fundista, encara com facilidade qualquer corrida de longa distância. Seu recorde foi São Paulo X Vitória (1000 km) em 9 horas. Foi um abuso, reconheço. Na verdade Duda só fez corresponder a pressão que fiz no acelerador.

Se ela não fosse aconchegante não conseguiríamos encarar percurso tão longos. Nosso trio já esteve num zig-zag maluco de Porto Alegre a Fortaleza.

A altura do carro, a visibilidade ajudou descobrir coisas extremamente curiosas.

Salvo os itens de duração programada, filtros, óleos, Duda é praticamente original em tudo. Frequentou oficina pra revisões e manutenção preventiva. Nunca chegou nem perto de uma internação, muito menos de uma UTI.

Duda conhece todos os nossos segredos, nos alcovitou algumas vezes. Foi solidária com nosso sono, assistiu conosco centenas de “por do sol”, nos locais mais incríveis.

Quem tem mais de 60 anos como nós, já conviveu com muitos carros de tantas marcas e modelos, já andou de buggy, de moto, tem consciência do que está dizendo. Obrigado Renault…………Duda, nós amamos você!