Quando você pensa em comida árabe, vai procurar aonde? Na Moóca, claro. E qual o nome bem apropriado para uma casa árabe? Juventus! Não tem tudo a ver?
Sempre que vou falar sobre comida árabe ou contar sobre santuário da gastronomia, gosto de fazer essa brincadeira pra causar espanto.
Mas gente…, essa história de brincadeira não tem nada, é tudo verdade.
Gosto muito de comida árabe e tenho especial predileção pela Esfiha Juventus.
Esse é o nome de uma casa árabe montada na Moóca em 1967, que sempre fez sucesso e sempre foi cochicho de entendidos.
Sabe como é? Aquela dica que um amigo dá para o outro com ar de quem está contando um puta segredo.
Fiquei sabendo da Esfiha Juventus em 1971. Era aluno da ESPM, tínhamos um professor de criatividade, o primeiro nome era Alberto. Desculpe mas não lembro do sobrenome, era alguma coisa pouco comum importada de alguma língua não latina.
Gravávamos um comercial de TV num estúdio nas Perdizes. Por volta de 13:00h foi resolvido que seriam compradas esfihas como almoço/lanche. Foi o Albertão (o homem era bem gordo mesmo) quem definiu o cardápio e o lugar onde seria feita a compra.
Primeira suspeita. Um sujeito com aquele tamanho de barriga deve saber o que recomendar. Segunda suspeita. Estava demorando muito e perguntei sobre as esfihas brincando. – Foram buscar aonde? Do outro lado do mundo? E a resposta foi fatal. – Isso mesmo, na Moóca!
Gente…, estávamos na zona Oeste, buscar esfihas na zona leste, só fazia sentido se fosse alguma coisa muito especial. E era!
Quando a encomenda chegou e os pacotes diziam Esfiha Juventus, perguntei a mim mesmo. Como uma esfiha que se diz especial pode ser produzida na Moóca e ter o nome Juventus. Nós estamos falando do Líbano ou da Itália?
Umas duas semanas depois, fui com minha namorada, conhecer o lugar.
Lógico que naquela época com 20 anos de idade, só estava a fim de comer umas esfihas de qualidade, mas como fiquei cliente fiel, como aprendi a gostar de conhecer e entender as coisas, como agora escrevo sobre tudo que gosto, aqui vai a história dessa casa quase italiana, quase árabe.
Tamer Abrahão, descendente de sírios era um jovem Que conheceu Wanda Puosso, descendente de italianos. Namoraram, casaram e começaram a vida com todas as dificuldades possíveis dos filhos de imigrantes pobres.
A Moóca fica, em relação ao centro da cidade, depois do Rio Tamanduateí, e isso significa muita coisa, significa local fabril, periferia, por isso muitos imigrantes se radicaram por lá.
A Rua da Moóca é e sempre foi uma artéria comercial. A Rua Visconde de Laguna, não. Não era “ponto” para um restaurante. A escolha foi meramente uma questão de oportunidade. Era aonde dava, entenderam?
A Cozinha árabe foi eleita pelo fato do Sr. Tamer ter tido uma experiência profissional no restaurante de um familiar na região da 25 de Março. E também pela ausência de alguma coisa similar na região (segundo os proprietários)
O nome Juventus veio da intenção do humilde casal em mostrar alguma familiaridade com a região e a colônia predominante.
O icônico estádio da Rua Javari do Clube Atlético Juventus, fica a duas quadras dali.
E assim desde 1967 a Esfiha Juventus extasia os apreciadores da cozinha árabe.
Eu gosto de comida árabe. Adoro também ir à Brasserie Victória, não quero ficar discutindo qual a melhor casa árabe de São Paulo. A Esfiha Juventus tem um charme todo especial, é paixão antiga.
E não sou o único, as paredes estão lotadas de fotos com gente conhecida e badalada.
A casa já cresceu de tamanho, ganhou fama e se deu ao luxo de “gourmetizar” seu cardápio. Com a benção de San Gennaro (estamos na Moóca, belo) nada do cardápio original foi retirado ou modificado. Mas hoje você conta esfiha em 47 “sabores” diferentes. E mais 9 versões doces.
Minha pedida toda vez que vou lá é a seguinte.
– Uma dose de Arak
– Água com gás
– 1 Esfiha de carne (pra esperar os pratos)
– Uma porção da Kafta (peça bem passada)
– Um combinado árabe (coalhada seca, Babaganuche e Homus)
– Uma porção de Pão Sírio
Isso serve perfeitamente bem duas pessoas. O Arroz marroquino deles também é muito bom, se você for guloso, fica a dica. ____________________________________________
Quem gosta de comer bem. Quem gosta de cozinhar e surpreender os amigos, precisa aprender a fazer Entrevero. Aprendemos essa tradicional receita da Serra Catarinense num acampamento do MST. Vale a pena conhecer.
Pra quem gosta de futebol e tem uma certa idade, Juventus é um pequeno time de futebol da cidade de São Paulo. Pequeno em expressão mais enorme em tradição e simpatia.
É dito que o Juventus é o segundo time de todos os paulistanos. Seu apelido, “Moleque travesso”. Isso mesmo, aquele que vive aprontando. A fama do Juventus era de que em todo campeonato paulista ele aprontava um resultado surpresa contra um dos cinco grandes (Palmeiras, São Paulo, Santos, Corinthians e Portuguesa).
Seu estádio é icônico. Construído em 1925 tem história e tradição. Foi palco de muitos jogos importantes envolvendo os grandes do estado.
Pelé, afirma que o gol mais bonito, o gol que ele mais se orgulha foi marcado por ele, muito no início de sua carreira, exatamente no estádio da Rua Javari. Assim é conhecido o estádio do Juventus.
Esse gol, que não tem imagem registrada, aconteceu num jogo Juventus X Santos em (?)1957. Pelé conta ter dominado a bola, ter dado três “chapéus” seguidos sem que a bola tocasse o chão e depois marcado.
Clube Atlético Juventus é um clube formado pela colônia italiana, basicamente pelo operariado e pelas benesses do Conde Rodolfo Crespi. O Cotonifício Rodolfo Crespi era uma importante e enorme empresa têxtil. O estádio leva o nome desse benfeitor e foi construído quase ao lado da
fábrica. O Juventus da Moóca, o time do incomum (e muito lindo) uniforme grená, é um dos clubes fundadores da Federação paulista de Futebol. Fora os grandes e a agremiação que mais vezes disputou o campeonato paulista. Tem razoável histórico internacional construído basicamente na década de 50/60. Foi Campeão da Taça
de Prata (2ª divisão do Brasileirão em 1983).
O Juventus tem uma excelente sede social. Um clube ótimo, grande, bem cuidado, que rivaliza seguramente com qualquer outro clube que possa ser lembrado na capital.
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Não cometa o pecado de assistir um jogo no estádio da Rua Javari e não comer Cannoli. Cannoli é um doce italiano. Massa folhada enrolada frita e recheada com creme.
Desde 1970 o Sr. Antonio Pereira Garcia, vende essa iguaria religiosamente em todas as partidas disputadas na Rua Javari. O Cannoli do Juventus é uma instituição!
Antes, durante e após os jogos, quem quer comprar Cannoli tem que entrar na fila. A banca do Seu Antonio, que foi rebatizado como Antonio Cannoli, fica dentro do estádio, afinal faz parte da tradição e do espetáculo. Porém tem quem vá ao estádio, não entre para ver o jogo e “grite seu pedido e receba seu cannoli pelas grades que cercam o estádio trazido por ajudantes do Sr. Antonio Cannoli. Cannoli é um doce originário da Sicília, seu recheio original é um creme de ricota.
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Rabo de Galo E para quem aprecia saber a história das coisas, recomendamos ler Rabo de Galo, matéria sobre o emblemático drink da boemia Paulistana….. Leia….
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[…] árabe da cidade (Não esqueça que São Paulo é a Capital Mundial da Gastronomia). Vá conhecer a Esfiha Juventus. Estranhou conheça a história. É isso mesmo uma casa árabe, fundada e dirigida por italianos no […]