Florianópolis – A Ilha das Bruxas

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Florianópolis – A Ilha das Bruxas

 

Florianópolis, a ilha das bruxas. Florianópolis é um ótimo lugar para ser revisitado. Adoro lugares como Florianópolis que oferece um número incrível de atrações. Boas, variadas, diferentes entre si e nada contaminado, descaracterizado, gourmetizado (no pior sentido do termo). E além de tudo, Florianópolis é a ilha das bruxas.

Explicando essa tese de variação das atrações. Florianópolis é uma ilha, portanto estamos falando de mar. Floripa, seu carinhoso tratamento, não tem mar, tem mares. Tem mar de ondas avantajadas para satisfação dos surfistas (Praia Brava, Moçambique, Joaquina). Tem praia calmíssima para a criançada se fartar (Praia da Daniela, Praia de Canavieiras). Tem reduto bucólico com criadouros de ostras (Ribeirão da Ilha, Santo Antonio de Lisboa). Tem praia sofisticadérrima (Jurerê Internacional).  Tem dunas. Tem a incrível Lagoa da Conceição. E tem as bruxas que estão em toda parte.

História

Ilha do Desterro, esse foi o primeiro nome do lugar na sua idade mais moderna.

A ilha tem uma posição estratégica e na época das grandes navegações isso foi muito importante. E pelo que se conta a ocupação do lugar se deu muito mais em função do poder dominante da época ter usado o local para “depositar” indivíduos não muito aceitos na sociedade da época. Ou por serem pessoas sem posses, condenados por algum delito ou adversários políticos.

Nessa conotação de desterro, exílio, somos remetidos a uma condição de energias negativas, ocultismo e ai fácil, fácil chegamos as bruxas.

A existência de bruxas é garantida pelos mais antigos. É explicado que sendo aquela uma ilha de desterrados, também seria um perfeito abrigo para mulheres de hábitos e saberes diferenciados. A tradição conta também que se uma bruxa for descoberta, perderá seus poderes. As bruxas formam assim uma sociedade invisível.

A grande Festa das Bruxas

Quando se fala em bruxas, não se deve esperar um comportamento contido. O melhor é pensar num ambiente mais libertino. Visitando Florianópolis, vá conhecer Itaguaçu ( tradução: O lugar das pedras grandes). Aproveite ao máximo o passeio sabendo que a tradição conta ser aquele o cenário de um grande festim das bruxas.

Itaguaçu é um daqueles cenários aonde o visitante chega e pergunta. Por que a natureza fez isso? Ou, como a natureza fez isso? Muitas pedras, grandes pedras são vistas na água. Elas parecem flutuar, parecem terem sido colocadas ali.

A lenda diz que foi combinada uma grande festa, que todas as bruxas participariam. Itaguaçu foi escolhida por ser uma praia distante. Na verdade é uma praia no continente, não na ilha.

A festa era uma grande celebração da coletividade. Até outros seres também mágicos foram convidados. Somente uma entidade do mundo mágico foi excluída da festa. Havia um acordo, não convidar o diabo, seu cheiro de enxofre, sua prepotência, seus maus hábitos não seriam bem vindos.

De alguma forma o diabo foi avisado. Sua indignação o fez ir até o local informado. Sua violenta revolta acabou com a festa. As pedras são algumas bruxas que a ira do diabo petrificou na praia.

Até os dias de hoje é dito que todo aquele que pretender morar na ilha deve ter muito respeito com as bruxas da ilha. Do contrário a vida do forasteiro não será tranquila.

Não saia pela ilha procurando pelas bruxas. Saia pela ilha descobrindo a magia da região. Vá para o centro velho da cidade e passeie no Mercado Público, na Casa da Alfândega e na Praça XV de Novembro onde a secular Figueira te aguarda. Conheça o Palácio Cruz e Souza, um edifício de quase 300 anos onde hoje funciona o Museu Histórico de Santa Catarina. É tudo muito próximo, e a catedral da cidade também fica por ali. A intenção dessa matéria é oferecer impressões sobre uma Florianópolis diversa daquela lembrada pelas praias e pelas dunas.

 

Mais quero Bruxa que me encante do que diabo que me carregue!

E é bom, é muito bom ser assim leve pouco apegado a lógica, ao materialismo. Poder flertar trocar olhares com aquelas tantas mulheres na Casa da Alfândega e perguntar mentalmente a cada uma delas. Você é bruxa? Qual é sua magia?  Desconfiei, dialoguei, convivi com muitas bruxas.                                                    Qual outro motivo teriam tantas mulheres para usarem cabelos longos e jogados contra o rosto. Modo sutil da tentativa de esconder alguma coisa de si. Seus saberes, seus mistérios. Por que o mesmo sorriso enigmático? O primário prazer de uma bruxa é encantar.

Ali, na presença de tantos elas empunham pinceis, sisais. Genial e ardilosamente fazem malabares com os bilros. É bruxaria arremessar os bilros tendo como resultado uma trama belíssima. Vestes excêntricas, traços extravagantes elas se retratam de forma pouco convencional, mas nunca de forma depressiva ou repugnante. Pelo contrário. Vejo um belo incomum, invulgar.

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Florianópolis – Centro Velho

A região é limpa, segura, bem conservada, bem tratada. É gostoso andar por ali.

O Palácio Cruz e Souza é um edifício atraente, charmoso, requintado. Abriga o Museu Histórico e museu é uma atração importante, mas sempre previsível.

A Figueira secular encontrada na Praça XV é uma coisa impressionante. Foi plantada em 1871 na praça da Igreja Matriz e transplantada para o local atual 20 anos depois.

Quem conhece o cajueiro de Piranji, perto de Natal no Rio Grande do Norte, sabe a sensação de se contemplar uma árvore que se espalhou horizontalmente e surpreende por estar ocupando centenas de m².

Os galhos da figueira vão se agigantando, várias escadas vão sendo colocadas para sustentação e proteção desses galhos.

É contado que os mais importantes fatos políticos ocorridos em Santa Catarina, ocorreram ou foram tramados sob a sombra daquela figueira.

O maior campeão do futebol de Santa Catarina, o Figueirense Futebol Clube, teve sua criação articulada em acaloradas discussões sobre futebol ocorridas sob a sombra da lendária figueira.

O Mercado Público, como está sendo feito em muitas cidades, foi revitalizado sem perder o charme e sem ser descaracterizado. Você pode percorrer corredores sentindo aquele cheiro característico de mercado público. Ver aquelas bancas que enchendo os olhos provocam nossa gula. O pátio central abriga um número enorme de mesas onde se passa um tempo agradável.

Quando se fala em Santa Catarina, a lembrança da imigração Alemã é imediata. Isso é correto na Serra Catarinense.  Mas isso não é verdadeiro quando se fala do litoral. Florianópolis foi desenvolvida basicamente por comunidades vindas dos Açores.

Quando se procura culinária que tenha tipicidade em Florianópolis deve-se lembrar do primeiro nome do lugar, Desterro. Aqueles que foram despejados lá sobreviviam comendo o que a região oferecia. Os frutos do mar e os produtos típicos da terra. Então os cardápios até hoje apresentam pratos com peixes e outros frutos do mar associados a banana, mandioca e algumas folhas. Não deve ter sido muito difícil para uma comunidade que também era insular, aproveitar o que os indígenas da região já utilizavam para acompanhar os peixes e moluscos que já estavam presentes em sua alimentação.

Acabou virando vedete e referência um marisco bem abundante chamado de Berbigão. Você verá cardápios oferecendo risotos, caldos e o festejado pastel de Berbigão. Leia mais sobre Berbigão.

O clássico de Florianópolis fica sendo “Posta de peixe frito com pirão de mandioca”.

Mas é a Casa da Alfândega o local mais encantador do centro velho de Floripa.

Essa edificação bem preservada recebe hoje o trabalho dos artesões da ilha. Gente, ou a curadoria é ótima, ou o número de ótimos artistas da localidade é muito grande. Prefiro ficar com um empate técnico.

Ali sim, as bruxas estão mais expostas. O tema da magia é talentosamente explorado. Muita Renda de Bilro.  Muito trabalho em barro e cerâmica. Muito uso de palhas e fibras. E uma presença constante: as Bruxas, afinal elas estão na sua terra, na ilha que as acolheu.          

Berbigão

Se alguém olhando esse marisco chama-lo de vôngole, não estará errado. O Berbigão, e seus primos eram conhecidos e consumidos na Europa. Pela abundância e pela necessidade acabou sendo importante fonte proteica dos “desterrados” e vedete da culinária.

De forma não muito clara, mas sem dúvida por irresponsabilidade do homem, o Berbigão está considerado extinto na ilha. Trazido de outros pontos do litoral catarinense, seu consumo continua grande. O venerável pastel de Berbigão continua sendo sua apresentação mais apreciada.

Uma semana antes da abertura do carnaval, ocorre em Florianópolis uma tradicional comemoração, O Berbigão do Boca. O evento é oficialmente a abertura do carnaval de Floripa. Uma concentração que reúne dezenas de milhares de pessoas.

Boca é o apelido de um folclórico morador que adorava Berbigão e era fanático por carnaval. Seu fanatismo trouxe a inspiração de se criar ou de se esticar o carnaval e junto prestigiar o Berbigão promovendo a escolha do melhor prato de Berbigão. A festa animada com grupos carnavalescos recebe vários bonecões reproduzindo figuras que merecem serem aclamadas ou criticadas.

Um júri técnico e um grupo de pessoas escolhidas experimentam os pratos apresentados por 12 concorrentes em busca do Berbigão do ano.

História

Quem gosta de conhecer mais sobre a história mística dos lugares, querendo conhecer melhor o folclore, o imaginário de Florianópolis pode se referencia na obra de Franklin Cascaes.

Reza antiga contra bruxarias

Para quem tem a pretensão de se proteger contra as bruxas. Para aqueles que não estão sensivelmente evoluídos para se entregarem aos encantos desses encantadores mistérios, vai aqui a oração (secular) que dizem encara esses seres especialíssimos.

Treze raio tem o Sóli, treze raio tem a Lua,

sarta diabo pro inferno, qu’esta alma não é tua.

Tosca marosca, rabo de rosca,

vassoura na tua mão, reio na tua bunda e aguiião nos teus pé.

Por riba do silvado e por baixo do teiado!

São Pedro, São Paulo e São Fontista

por riba da casa, São João Batista.

Bruxa tatarabruxa, tu não me entres nesta casa

nem nesta comarca toda,

por todos os santos dos santos.

Amém……….

Manesinho

Depois que o império Otomano perdeu o controle da Europa, muitas providências foram tomadas para defender e ostentar os valores cristãos.

Em Portugal não havia liberdade para a escolha dos nomes dos filhos. Havia uma lista contendo os nomes liberados. Eram nomes que de alguma forma exaltavam o cristianismo. Manuel (Deus está conosco) era um dos mais requisitados.

Dizer que um homem era um manesinho não era pejorativo só fazia relembrar a origem do povo português. Manesinho acabou sendo quase um gentílico dos habitantes do Desterro que se transformou em Florianópolis.

Florianópolis

Nossa história republicada tem muito pouca estabilidade. Bem em seu comezinho temos um episódio pouco difundido. Nosso primeiro presidente acabou renunciando e esse evento provocou um grande reboliço, uma revolta armada e uma série de ações de Floriano Peixoto que não eram exatamente de inteiro agrado da nação. Em função de um embate de forças e da vitória do grupo de Floriano, esse forçou a barra e o nome da cidade, como afronta a seus opositores foi alterado para Florianópolis.

N.S. do Desterro
Essa denominação destinada a Maria, diz respeito ao episódio da fuga da sagrada família fugindo da perseguição do rei Herodes. A ilha receber esse nome tem uma alusão direta a sua inicial ocupação.

 

 

Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

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