Recife & Arte
17 de agosto de 2021

Penedo – Alagoas

Existe, para quem visita Alagoas a grande sacada de percorrer todinho o litoral do estado. E de quebra, estar ou encostar em outros dois estados. Ao norte Pernambuco e ao sul Sergipe.

Maceió fica no meio dessa costa detentora de ótimas paisagens, onde existe a incidência da incrível Costa dos Corais e que guarda ótimas surpresas.

Voltando a falar sobre geografia. Maragogi, destino imperdível para quem visita Alagoas, dista 176 Km da capital. E andando mais 17 Km você acessa São José da Coroa Grande e com isso já está em Pernambuco. Se sabendo que você está em Pernambuco e ficar muito assanhado para visitar a Praia dos Carneiros e Porto de Galinhas, não pense estar cometendo um pecado mortal. A questão será decidir sobre prioridades, disponibilidade de tempo, etc. A distância entre esses paraísos é pequena e não será problema. E o caminho a ser percorrido é super agradável.

Rumando para o sul, além de um litoral belíssimo, quem gosta de explorar locais pouco destacados, o caminho oferecerá inúmeras oportunidades.
Pulo do gato. Siga direto para a divisa com o estado de Sergipe. Novamente a distância é pequena, andando 146 Km você estará em Piaçabuçu, onde encontrando a margem da foz do Rio São Francisco, você estará na divisa com Sergipe. Comemore, você estará explorando uma região lindíssima, deliciosa de ser percorrida. Porém guarde fôlego, você estará a somente 25 Km da maior surpresa de toda a região: Penedo!

Penedo! Anotem, leiam, surpreendam-se

Penedo é um pérola fixada as margens do lendário Velho Chico, o que por si já é um espetáculo. Um local onde, muito bem conservado, pode ser contemplado um rico e muito especial patrimônio arquitetônico preservado.
Penedo é cidade muito antiga, fundada no início do século XVII. Foi capital do estado. Foi cidade ilustre, destaque na região e importante o suficiente para receber a visita de D. Pedro II.

Em Penedo você encontra dúzias de encantadores palacetes erguidos na áurea época do ciclo da Cana de Açúcar. É um conjunto arquitetônico muito interessante de ser conhecido. Eles não estão exatamente agrupados. Você percorre a cidade e vai encontrando esses admiráveis palacetes.
Como estamos no Nordeste, e as temperaturas são altas, os projetistas posicionaram essas casas no centro de amplos terrenos e planejam deixando entrada de ar por todos os lados. Áreas sombreadas e amplas varandas são elementos comuns.
Imagine aquela típica luminosidade existente nos paralelos mais equatoriais do Nordeste brasileiro, incidindo sobre destacadas mostras da opulência econômica do ciclo da Cana de Açúcar. Salpique, ou entremeie com edificações que tem a cor, o cheiro e as características típicas do nosso Nordeste. Ai você tem boa parte dos encantos de Penedo.

A presença marcante do Cristianismo também é marcante. Outra delícia é colocar essa rica mistura assentada sobre um penhasco projetado sobre o majestoso Rio São Francisco. Pronto. Esse é cenário, a atmosfera que você desfrutará percorrendo Penedo.

Claro que nossa primeira recomendação é o clássico passeio “A pé eu vou mais fundo”. Nunca deixe de estacionar o carro e percorrer sem objetivo o centro histórico da cidade visitada. Esse irônico título traduz o entendimento que fazemos sobre como tornar muito mais interessante qualquer passeio. Ande sem destino determinado e esteja aberto para tudo que aparecer. Vá se acostumando a tropeçar com muita coisa bem além de sua imaginação.
Ai, não por acaso, você estaciona perto da Catedral NS do Rosário, com sede de conhecer cada um dos prédios históricos que se apresenta, no local. Visita a igreja e acresce no seu arquivo de conhecimento outro, sempre admirável templo em estilo barroco.

A Casa de Aposentadoria

Sua curiosidade será atiçada quando você de defrontar com a placa indicativa Casa de Aposentadoria. Não se precipite. Nosso idioma também nos prega peças. Casa de Aposentadoria, nada tem a ver com alguma autarquia do governo que cuide da seguridade social. Num conceito completamente inusitado para mim, o título significa imóvel que abrigava, que hospedava, os aposentos dos Ouvidores (Juízes indicados pelos donatários das capitanias).
O imóvel acabou nunca servindo para essa finalidade. Foi sede da Câmara da cidade, seu andar térreo (esse tipo de ocupação combinada era frequente), foi cadeia pública. Hoje a ocupação é um misto de museu e mostra ativa de arte e artesanato da cidade.
A seu lado temos outra histórica construção, quase que contemporânea que desempenhou as funções de Casa de Aposentadoria e hoje abriga a prefeitura da cidade.

A Capela dos Condenados

Do outro lado da Rua (melhor dizer da praça) existe uma pequena capela identificada como Capela dos Condenados, ou Oratório da Forca. Sim, estamos falando de um local de oração dedicado exclusivamente para abrigar durante sua última noite com vida, os condenados que seriam mortos por enforcamento. Sente-se uma sensação diferenciada saber que se está num local onde muita gente ali esteve vivenciando tanta angústia, tanta aflição.

Nos fundos do prédio da Casa de Aposentadoria passa a última rua da cidade antes do barranco do penhasco despencar no glorioso Rio São Francisco. Das janelas do prédio da Casa de Aposentadoria tem-se uma linda vista do rio (imenso nesse ponto).

Igreja de Nossa Senhora das Correntes

Gosto de estudar e pesquisar sobre a iconografia sacra e já pesquisei muito também sobre a devoção Mariana. São campos férteis e deslumbrantes. Sobre as invocações e devoções Marianas o número de surpresas é enorme. Tinha conhecimento de denominações curiosas como por exemplo Nossa Senhora do Ó, ou Nossa Senhora da Escada. Mas conhecer Nossa Senhora das Correntes foi inusitado em todos os sentidos.
A Igreja é bonita, muita arte barroca para apreciar. Na iconografia clássica da Igreja Católica, não existe nenhuma referência a essa denominação, Correntes.
Porém como também a maioria das invocações registradas, tem origem incerta, e esse texto não tem nenhuma pretensão de ser um tratado sobre história, prefiro divulgar somente o curioso ritual nessa igreja praticado e informado um painel colocado logo na entrada do templo. Informa o texto:
            ………………  nos casamentos realizados nesse templo, as noivas tinham seu corpo enrolado por várias correntes, o sacerdote conduzia a   cerimônia com a noiva assim apresentada e ara anunciado para a que as correntes eram o simbolismo da submissão e da escravidão que ela estava assumindo naquela celebração.

Esclareço que os termos “submissão” e “escravidão”, são expressões usadas no painel que esclarece sobre o templo. Podemos hoje até nos espantarmos, mas esse era o critério da sociedade sobre o papel da mulher.
Vamos deixar claro. Turista não precisa concordar ou apoiar situações ou fatos históricos. O Turista, bisbilhota, exerce sua curiosidade, e enriquece seus conhecimentos sem maiores compromissos ideológicos.
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Além desses três destaques, coisas bem interessantes serão encontradas nesse tour pelo centro histórico da cidade. Visite o Centro de Artesanato, instalado no prédio do antigo Mercado Municipal, o Convento NS dos Anjos, e a Igreja de São Gonçalo.

Na Av. Beira Rio, temos vários restaurantes populares. São pitorescos, e devem ser conhecidos. É sempre uma experiência, válida.

Velho Chico

Um passeio que vale muito a pena é saindo de Penedo, ir de barco até a foz do São Francisco em Piaçabuçu. O caminho feito pelo barco é uma graça. Você aporta numa região com muita dunas. Os residentes da região tem muito a demonstrar, enfim é uma experiencia diferenciada.

Quem estiver com pretensões de explorar o interior o sertão de Alagoas, pode pensar em também viajar no sentido oposto e subir o rio indo a Piranhas (lado alagoano) ou Canindé (lado sergipano) visitando a região dos Cânions do Xingó.

Não vá para Piaçabuçu se não dispuser de 1 ou 2 dias para isso e somente pense no Cânions do Xingó se realmente você dispuser de n mínimo 3 ou 4 dias.

Para quem está hospedado em Maceió e pretende dedicar um dia somente a Penedo, fazer a travessia do rio na balsa e ir pisar em solo sergipano, já está de bom tamanho.

 

  

Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

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