Quando indicamos passeios para serem feitos a pé por Salvador, sempre recomendamos que se voltasse de Táxi. Estava explícito, poupar energias para uma boa noitada.

         O bairro do Rio Vermelho tem a melhor noite do que conhecemos em Salvador.

Como dissemos no título, Rio Vermelho é melhor à noite. Pelos bares, pela atmosfera de tantas barracas (comes & bebes, artesanato) montadas nas suas praças, e pelo fato que é possível a noite também conhecer e curtir todas as atrações que poderiam ser curtidas durante o dia.

         Você vê a placa da rua e lê Catarina Álvares Paraguaçu, saca uma brincadeira e diz que essa deve ter sido parente do Coronel Odorico, logo alguém esclarece que esse foi o nome recebido em batismo na França pela índia Paraguaçu que foi casada com Caramuru.

                            Essa estória do Sr. Diogo Álvares Correia (verdadeiro nome de Caramuru) ter levado a moça e a irmã para a França foi pura sacanagem. Elas eram vistas como espécimes expostos num zoológico.

                                   Aliás, vamos deixar claro que de herói e patriota o senhor Caramuru não tinha nada. Conta a lenda que ele era naufrago de um navio Frances (já em 1511, imaginem só) e mesmo servindo aos portugueses na aproximação com os índios, se ocupava de contrabandear Pau Brasil com os franceses.                                                                                

                                                              Monumento em homenagem a Caramuru

         Rio Vermelho tem muitos largos. Você passeia, por exemplo, no Largo da Mariquita. O nome não homenageia nenhuma mulher, significa em Tupi Guarani, local onde se pesca peixe pequeno.

          Você passará também pelo Largo do Mercado do Peixe. No local se vende peixe, claro, perpetuando a tradição de daquele ponto partirem e retornarem os barcos da tradicional comunidade de pescadores que ainda existe no local.

         O recinto onde era guardado o equipamento comum de pesca da comunidade está hoje transformado num recinto onde obras de arte popular mostram o culto a Iemanjá.

         O bairro do Rio Vermelho sempre atraiu artistas e intelectuais. O casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, moraram lá muito anos (Rua Alagoinhas) Moraram e moram ainda hoje, nesse endereço estão guardadas as cinzas nesses geniais brasileiros.

         Tire uma selfie com eles. Perto da capelinha de Santana eles estão perpetuados em bronze sentados num banco contemplando o tão decantado por Jorge, mar da Bahia.

     O artista retratou em bronze, Jorge Amado, Zélia Gattai. Eles             foram casados por 56 anos. Junto ao casal está Fadul Abdala, o terceiro   Pug do casal. O cão recebeu o mesmo nome de um personagem criado por Jorge no romance Tieta do Agreste.

         Pra quem gosta, e Luna adora o crepúsculo, o poente sobre o mar visto do Rio Vermelho é um espetáculo deslumbrante.

         Cai a noite e começa a ferveção. As barracas de acarajé começam a funcionar. Cida, Regina, Dinha (existem outras), todas se intitulam donas da produção do melhor acarajé da Bahia. Tapioca também é oferecida com fartura e no mesmo critério de avaliação.

         Muitos bares espalham mesas nas calçadas. Em pouco tempo os espaços vão sendo ocupados por gente sorridente que procura dividir com todos sua conversa, suas estórias.

         As maiorias dos detalhes contados na matéria não são fruto de pesquisa. É fruto dessas conversas fáceis trocadas com essa gente gostosa que se encontra pelos cantos do mundo.

         Alguns têm preferência por um ou outro bar. Estivemos em alguns. A coisa não muda. A simpatia foi constante, o serviço sempre um pouco demorado, tudo o que nos foi servido estava tipicamente bom.

         Se quiserem uma referência escolham o Pós Tudo. Os mesmos atributos indicados acima, uma decoração ótima e uma varanda maravilhosa.  O nome na verdade é uma atualização. Rio Vermelho, até mesmo por ser reduto de intelectuais e artistas e outros seres pensantes, é uma referência em pratica política.  Esse bar foi reduto de resistência política e sempre teve a ousadia de expor no nome a ideologia dos seus frequentadores. Mudando de nome muitas vezes esse bar era Pró. Pró Liberdade, Pró Anistia, etc. Com a distensão ele continuou mudando de nome e passou a ser Pós. Agora esgotada a militância ele é Pós Tudo. Essa história foi ouvida de um dos seus frequentadores.

         Faça a experiência de tomar uma (duas…) cerveja numa das mesas colocadas nas calçadas, você verá tipos interessantes.

         Salvador é a cidade mais negra do Brasil ou fora da África. Acho linda a maneira orgulhosa, altiva como as mulheres (principalmente) valorizam o cabelo afro, os turbantes, os vestidos longos soltos e fartamente coloridos.

      Mesmo quem não cultua as divindades da cultura Afro, quem não  é praticante do Candomblé, tem especial carinho por Iemanjá. Rio Vermelho e a Casa de Iemanjá criam uma atmosfera onde cada um a seu modo sorriem e referenciam essa carinhosa figura.