Nelson Rodrigues, era contra a pílula, o comunismo, o divorcio. Mas acredito que ele aceitaria ter a mesma opinião da imensa maioria e se incomodar com a maneira distinta como nossa Justiça está tratando os citados nas investigações contra a corrupção.
E mesmo sendo um escritor muito criativo não teria explicação fantasiosa ou não para a permanência de tantos investigados comprometidos até o pescoço ficarem em liberdade.
A exceção confirma a regra. Nelson estava certo em muita coisa, menos torcer pelo Fluminense. Esse pensador sempre desconfiou da conformidade. Ele entendia que o ser humano é único e que, portanto a verdade pode ter as mais variadas versões. Inclusive ser oposta.
Os títulos das obras de Nelson quase sempre são frases prontas para analisar a política nacional.
– A Vida como ela é.
– Os 7 gatinhos.
– Bonitinha mas ordinária.
O universo Rodriguiano é repleto de putas, cornos, safados, cafetinas. Mas eles não são bandidos. Nossos políticos também não se sentem bandidos. Pior ainda a imensa parcela da sociedade que só enxergam defeitos e falta de caráter nas atitudes dos outros.
O homem da obra de Nelson Rodrigues tinha amante, frequentava a zona e se entendia como um cidadão de bem com permissão da sociedade para vingar com sangue uma desonra da mulher.
Quem conhece a biografia de Nelson entende melhor sua fixação em misturar amores, amantes e sangue.
Nelson é grande demais para caber numa única definição quanto a sua postura ideológica. Radical, reacionário e igualmente permissivo.
Essa leitura justifica a pessoa Nelson escrever através de heterônimos. Seu lado feminino se projetava a través de duas distintas versões. Myrna, era a centrada senhora que dava conselhos as leitoras do jornal Diário da Noite num viés bastante conservador. E Suzana Flag foi o heterônimo que assinou “Meu destino é pecar”, polêmico livro que afrontava a moral vigente.
Outra famosa frase de Nelson também abordava as mulheres: Nem todas as mulheres gostam de apanhar, as neuróticas, reclamam.
Esse Nelson ambíguo que passou para a história era o criador ou o grande personagem?
As 1.000 melhores frases de Nelson Rodrigues”
Ruy Castro, Companhia das Letras, 1997
“Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem”.
“Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.
“Só o inimigo não trai nunca”.
“Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”.
“No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte”.
“Se os fatos são contra mim, pior para os fatos”.
“Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam”.
“O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: – Senhoras e senhores, eu sou um canalha”.
“Não reparem que eu misture os tratamentos de “tu” e “você”. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância”.
“Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta”.
“Toda coerência é, no mínimo, suspeita”.
“A maior desgraça da democracia, é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”.
“Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos”…
“Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura”.
“Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto”.
“Como são parecidos os radicais da esquerda e da direita. Dirá alguém que as intenções são dessemelhantes. Não. Mil vezes não. Um canalha é exatamente igual a outro canalha”.