Cananéia
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7 de janeiro de 2018
Restaurante da Sinhá - São Tomé das Letras MG
Restaurante da Sinhá – São Thomé das Letras MG
31 de janeiro de 2018

Ouro Preto

Ouro Preto - Congada

        Já havíamos visitado Ouro Preto, mas essa viagem deveria e foi narrada. Não queríamos narrar nada que fosse requentado. Não estávamos dispostos a contar lembranças embaçadas. Como fazer essa viagem render ao máximo? Qual seria a abordagem conveniente para a narrativa.

        Ouro Preto é emblemática. É a cidade histórica mineira com maior reconhecimento, e tem potencial para isso. Não se visita Ouro Preto desdenhando o que já foi visto numa certa ocasião. Tudo lá merece respeito admiração.

            Decidimos que nossa passagem por Ouro Preto teria como base o “imperdível”, mas com uma atenção muito grande para o cotidiano da cidade.           

            A cidade nasceu como Vila Rica pela quantidade de ouro encontrada na região. Na verdade, Vila Rica de N.S. do Pilar do. Ouro Preto. E expressão Ouro Preto é dada em função da quantidade de óxido de ferro existente junto as pepitas de ouro encontradas.   

                                                            A escolha de uma cena com negros celebrando uma congada para ilustrar o título da matéria, tem por propósito levantar um questionamento. Como seria a realidade do Ciclo do Ouro sem o trabalho escravo? As edificações do Barroco são exaltadas, mas pouco de fala sobre a influência dos negros e dos mestiços.   

            Quem se encanta com as atrações de Minas Gerais. Quem é apaixonado pelas igrejas, pelo barroco. Quem busca as surpresas e curiosidades da Estrada Real não precisa se graduar em História, mas deve saber sobre os fatos que originaram tudo isso. Responder que isso é fruto do Ciclo do Ouro é correto, porém superficial.

            Igrejas, porque tantas em tão pouco espaço? A Estrada Real, seria uma super obra viária da época?  O Quinto e a Derrama, os impostos cobrados pela Coroa Portuguesa eram pagos corretamente?

            Portugal criou toda uma legislação para abocanhar boa parte do ouro encontrado no Brasil. Criou uma administração para a região mineradora, Instituiu a Intendência mineira. Abriu a casa de fundição e instituiu dois impostos. O Quinto, e a Derrama. O quinto era a retenção de 20% de todo o ouro encontrado e Derrama era uma cobrança anual baseada na evolução patrimonial dos indivíduos.

            A coisa funcionava assim. O governo instituído para a região espalhou postos fiscais/administrativos pela região. A Lei dizia que todo o ouro encontrado deveria ser levado para a Casa de Fundição para ser fundido e transformado em barras que ganhavam o selo da Coroa. Nesse momento o quinto era retido/cobrado.

            A Estrada Real nada mais era do que o único caminho onde o ouro estava autorizado a circular. Vejam o mapa, além das bibliotecas e da internet, milhares de estepes de SUVs estampam em suas capas o traçado da Estrada Real. Esse caminho liga a região produtora de Ouro ao porto de Paraty onde era feito o embarque para a Europa.          

            Lembrem que esse país (segundo a própria Coroa Portuguesa) ficava nos infernos. Lembram da expressão “Os quintos dos infernos”. O quinto era o imposto e o inferno era esse país do fim do mundo. Lembrem que para aqui foram enviados centenas de degradados. E nesses desterrados havia de tudo, ladrão, vigarista, desafeto político, dissidente religioso…………

Lembrem também que a quantidade de Ouro encontrada era enorme. Falam em 800 toneladas oficiais levadas por Portugal. Se isso era o quinto……………

            Não sejemos inocentes. Os navios Ingleses, Holandeses, franceses, etc, não vinham trazer turista sexual. Ver nativa pelada era o que menos interessava.

            Nesse cenário, contrabando, corrupção, trambique foram os pilares construtores da nossa sociedade.

            Portugal, não queira concorrência na cobrança do Dízimo e proibiu a Igreja de se instalar nas regiões de mineração. O pulo do gato (tanto para quem tinha fé, como para a Igreja) foi a criação de Irmandades Leigas, que numa falha da legislação não estavam proscritas na região.

            Grupos sociais distintos e rivais criavam suas irmandades religiosas, faziam algum conchavo com a Igreja e como dinheiro (lícito ou não) não faltava, cada Irmandade construía seu templo, sua igreja. Numa guerra de egos e status foram surgindo essas fantásticas igrejas, essas obras que nos apaixonam hoje.

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No século XVII Ouro Preto chegou a ser a mais populosa cidade de todas as Américas.  Sua população chegou a 40.000 pessoas no mesmo momento que Nova York tinha metade disso e São Paulo não chegava a 10.000. Populosa, importante politicamente e rica foi esse conjunto que produziu o cenário que conhecemos hoje. Ouro Preto foi o primeiro sítio brasileiro a ser considerado Patrimônio Cultural Mundial pela UNESCO.

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Nosso trabalho é sobre o verdadeiro Turismo da Terceira Idade. Turismo para Maduros. Turismo para Maduros descolados. Um Turismo Racional que considera os interesses, objetivos, condições e disponibilidades dos Maduros. Fugimos dos modismos, dos destinos e atrações previsíveis. Buscamos as coisas curiosas, as coisas típicas, excêntricas. Queremos conhecer a alma, a atmosfera a beleza singular de tudo e de todos.

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*Os Maduros quando viajam priorizam o Caminho tanto quando o Destino. Prefira fazer um roteiro. Estar em Ouro Preto é ótimo, mas será excelente se você conhecer os arredores. Logico que indo a Ouro Preto você possivelmente visite Mariana, Congonhas, Sabará. Mas se permita conhecer locais com menos fama, porém com encantos próprios. Itabirito, Lavras Novas, Cachoeira do Brumado, pesquise e ouse. É isso que torna a viagem diferenciada. 

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Um roteiro tipo “prioridades” em Ouro Preto.

Primeiro um conselho. Nós que somos fanáticos por água de coco resolvemos transportar algumas caixas da bebida em nossa mochila. As ladeiras de Ouro Preto são desafiadoras. É preciso estar hidratado, com o nível de potássio em ordem e repor energias o tempo todo. Calçado confortável é coisa fundamental que todo viajante militante juramentado não deve esquecer.

Outra dica. Arrume um mapa da região central da cidade. Isso vai permitir que você se organize melhor. Consideramos (novamente) que a topografia da cidade é coisa séria. Ouro Preto praticamente é sinônimo de ladeiras, ladeiras e mais ladeiras.



Deixe para definir seu trajeto somente quando estiver em algum ponto de partida, na Praça dos Inconfidentes, por exemplo. Vendo a topografia da cidade você poderá recalcular a rota “tentando” minimizar o esforço físico.

Sugestão. Percorra as ruas, Conde de Bobadela e Cláudio Manoel, elas são seqüenciais, formam um eixo, ligam várias atrações são uma ótima mostra da arquitetura e urbanização da cidade.

Praça Tiradentes

É praticamente o centro do município. Foi nessa praça que a cabeça de Tiradentes ficou exposta depois do enforcamento.

Lá estão o Museu dos Inconfidentes. A Casa dos Governadores, que hoje abriga o Museu da Ciência e da Técnica. O conjunto arquitetônico do entorno da praça representa muito bem o que você veio visitar.

Igreja matriz NS do Pilar

Deixe seus olhos felizes. É a mais rica igreja de Minas. Foram utilizados 400 kg de ouro na decoração de suas talhas. A Igreja é organizada em nichos e várias irmandades tinham seu espaço dentro do templo. Em sua sacristia funciona o Museu de Arte Sacra do Pilar. Funciona num espaço sob a sacristia descoberto recentemente e que se imagina ter sido uma mina de Ouro.

      

Igreja de São Francisco

Afague sua sensibilidade. Essa é uma das mais celebradas obras do Aleijadinho.A igreja também ostenta alguns trabalhos de pintura e douração do mestre Ataíde. A Igreja de São Francisco de Ouro Preto foi classificada no curioso rol das Sete Maravilhas de origem Portuguesa do Mundo.

Museu de Arte Sacra e Museu do Oratório

É uma indicação tendenciosa pela nossa paixão por arte sacra

Mina de Chico Rei

É uma experiência diferente visitar uma (antiga) mina de Ouro. Esse local está (hoje) dentro do centro urbano da cidade. Somente uma pequena parte da mina, por segurança, está aberta a visitação. Nessa mina nunca houve intervenção mecânica, tudo ali sempre foi feita por mãos escravas.

É contado que Chico Rei era um escravo vindo do Congo. A tradição oral diz que esse escravo era rei no Congo, aprisionado e trazido para o Brasil teve seu nome mudado para Francisco. Isso explica seu apelido. O personagem liderava um esquema onde os escravos traziam a superfície ouro em partículas pequenas escondido nos cabelos. Havia um conchavo com alguns sacerdotes, os negros lavavam os cabelos na Pia Batismal. Esse esquema captou ouro suficiente para que ele comprasse a alforria dele, de muitos outros negros, comprasse a mina de seu ex-patrão e construísse uma igreja em louvor a NS do Rosário e a Santa Efigênia.                                                                                                                                                                                                                                     Aliás, uma observação. Reparem que essa Igreja está decorada em suas paredes com cenas do cotidiano. Lamentavelmente o cotidiano retratado era o cotidiano dos brancos e não a vida dura dos pretos. Sacanagem o suor dos pretos (mesmo que com ouro contrabandeado) servir para retratar folgados senhores usando cartola e passeando com suas esposas.

          

  Existem leituras que afirmam que Chico Rei, nunca existiu. Que esse é um personagem fruto de um engano de interpretação de alguns historiadores. Outros entendem que quando se fala em Chico Rei está se glorificando um ladrão. Entendo que fictício ou verdadeiro, Chico Rei é um exemplo da moralidade e da ética imperante desse processo histórico.

 

Mirante do Morro de São Sebastião

Sendo Ouro Preto uma cidade de topografia difícil, onde pequenos morros se amontoam, o Morro de São Sebastião acaba sendo um local privilegiado de onde se pode ter uma visão deslumbrante para se observar Ouro Preto.

Os locais indicados são uma mínima parte do possível de ser visto em Ouro Preto. O resto é com a sensibilidade de cada um.

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 Pousada Chão de Minas

Numa decisão bastante ousada decidimos experimentar a sensação de ficarmos hospedados num lugar que nos desse uma noção interiorana de Minas Gerais. Buscamos por uma pousada localizada nos arredores de Ouro Preto.         Cachoeira do Campo é um distrito de Ouro Preto. Foi local muito importante no período glorioso de Ouro Preto. Lá existiu (hoje em ruínas) o Palácio da Cachoeira.

No distrito também temos uma igreja setecentista algumas outras construções históricas. Em Cachoeira do Campo encontramos e nos decidimos pela Pousada Chão de Minas.

 

 

 

A Pousada Chão de Minas, é o produto da saga de uma família. Proprietários de um sítio de tamanho razoável, ótima localização e muita beleza natural, resolveram rentabilizar o local implantando um complexo turístico. Restaurante, Alambique e Pousada.

 

O restaurante da pousada é aberto ao público externo e pela proximidade com Ouro Preto, por existiram algumas empresas instaladas na região e pela qualidade de sua cozinha é sempre bastante frequentado.

*Clique no título e abra uma matéria sobre essa incrível pousada

Pousada Chão de Minas                                                                                                                              R. Nossa Senhora Auxiliadora, 29, Cachoeira do Campo, Ouro Preto MG                                                                      (31) 3553.1384                                                                                                            http://www.chaodeminas.com.br 

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Passo Pizza Jazz

Dentro desse critério de fazer uma viagem diferenciada a Ouro Preto, por coerência deveríamos frequentar para refeições e bebidinhas uma casa que tivesse uma proposta diferente.

O Passo persegue a posição de melhor ou um dos melhores restaurantes da cidade. Mas não é um restaurante montado para turista que está passando pela cidade.

Pesquisando sobre as opções gastronômicas de Ouro Preto, vimos que O Passo apresentava uma programação de atrações, que mostrava música de qualidade, múltiplos ambientes e oferecia um cardápio diferenciado. Não perca essa experiência.

*Clique no título, abra uma ótima matéria sobre essa imperdível casa

O Passo Pizza Jazz                                                                               Rua São José 56                                                                                 (31) 3552- 5089                                                                                 https://www.opassopizzajazz.com/passo                                               https://www.facebook.com/pg/opassopizzajazz/about/

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Hábitos da terra                                                                                              Combustível para o papo com os amigos.

Tem maior prazer o viajante que está aberto para tudo. Curtam as novidades. Experimentem, ouçam, curtam, classifiquem como novidade, não censurem.

Em 2015, estivemos em Iguatama. Entramos na cidade motivados pela indicação que aquela era a primeira cidade banhada pelo Rio São Francisco. Estivemos no afamado Velho Chico, experimentamos sua água.

Passeando pela cidade fomos surpreendidos por um serviço comunitário, para nós desconhecido. O Propagandista Fúnebre. Leiam a matéria https://coisasdegentegrande.com.br/iguatama/

A função do dono daquela velha Brasília era anunciar pelos alto-falantes do seu carro notícias sobre os falecimentos ocorridos na cidade.

Agora em 2017, em Ouro Preto vimos uma nova versão do mesmo serviço. São afixados pela cidade cartazetes informando o obituário da cidade e as homenagens fúnebres que serão prestadas.

É isso viajante. Ter olhos e ouvidos abertos e curtir as características de cada lugar.

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Ouro Preto 

       

       

__________________________________________________________________________O Passo 

       

   

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Pousada Chão de Minas

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Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

6 Comments

  1. […] Super dica                                                                                                                            Quando se fala em destinos de charme (e isso é ótimo) tenho o dever de comentar sobre a Pousada Chão de Minas*.     Vale a pena em todos os sentidos.            * A Pousada Chão de Minas está localizada em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto MG […]

  2. […] por uma pousada localizada nos arredores de Ouro Preto.  Cachoeira do Campo é um distrito de Ouro Preto  (leia sobre nossa estada nessa cidade…) Foi local muito importante no período glorioso de […]

  3. […] impressões em cada uma dessas joias de poesia. São João Del Rei, Sabará, Tiradentes, Mariana, Ouro Preto e São Luiz de Paraitinga […]

  4. […] Ouro Preto – Vende a ideia de ser o centro político. […]

  5. […] *Os Maduros viajam de forma racional, dão tanto valor para o Caminho do que para o Destino, Fazem roteiros e nunca se negam a conhecer as curiosidades, os encantos das cidades menos afamadas que encontramos pelo Caminho.  Quem se decide visitar Congonhas, deve estar fazendo um circuito nas cidades históricas e no mínimo pela proximidade irá também em Mariana e Ouro Preto. […]

  6. Mariana disse:

    […] Ouro Preto – Vende a ideia de ser o centro político. […]

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