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Cadê o meu chaveiro?

                   Uma antiga historinha no estilo nonsense, deixou de ser piada (e isso não tem nenhuma graça) para ser prática administrativa dos atuais governantes do país.

            Alta madrugada, fim de festa, personagens num imenso jardim.

            Um quase respeitável senhor, carregando no organismo uma farta carga etílica, enxergando outro também quase respeitável senhor andando de quatro em torno de um poste, se aproxima e pergunta.

            – Cumpanhero! Qui se tá fazendu? Não reclamem da grafia. Bêbado é assim mesmo, fica com uma dicção péssima.

            Tô prucurandu. Convenhamos, a resposta não foi elucidativa, mas pela condição etílica tudo é desculpável.

            – Mais tu prucura o que? Mais do que justo tentar entender.

            – Meu javero!

            – Meu que?

            – Javero, porra! Aquele negocio que a gente pindura as javis.

            – Intendi…. mais precisa procura agora?

            – Claro, chave do carro, da casa, ta tudo junto.

           Entre os bêbados existe muita solidariedade. O outro também fica de quatro e passa a ajudar o um na procura do chaveiro.

            Algum tempo depois, meio de saco cheio de ficar de quatro, andando de um lado pro outro tateando a grama, o outro pergunta ao um.

            – Cumpanhero, mas tem certeza que foi aqui perto desse poste que sê perdeu seu chaveiro?

            – Não foi não, deve ter sido lá embaixo mais perto do lago.

            O solidário segundo bêbado, senta, reflete (bêbado também reflete) e questiona.

            – Mas porque nós tamo procurando aqui?

            – Porra! Porque aqui ta mais claro!

 

            Pois é. Essa é a lógica (?) reinante: Procurar soluções naquilo que é mais fácil e não na origem dos problemas.

            – O governo fala em Justiça, mas compra parlamentares para que não haja investigação.

            – Identifica um rombo nas contas de previdência, mas não corta privilégios e propõe que o povão proletário pague a conta.

            – Quer combater o “Custo Brasil” diminuindo os salários e não os encargos.

            – Diminui o poder aquisitivo da população para poder comemorar a queda da inflação.

            – Coloca a culpa dos erros passados, presentes e futuros no governo anterior.

            – Consegue colocar na estatística do emprego 10 milhões de novos desempregados e comemora quando circunstancialmente um setor cria 37.000 novas vagas.

            – Recebe na madrugada um empresário, fala abertamente em corrupção, compra de pessoas. Escala elementos para o trabalho mais sujo e quando descoberto acusa do visitante de ser bandido ?!?!

            Uma perguntinha. A sociedade todinha está bêbada? Foi pra isso que minha geração expôs a sua vida combatendo uma ditadura? Tem alguma graça ver ser rapidamente destruído o Brasil construído desde 2002?

            Pra colaborar com o bêbado número um o outro precisou ficar de quatro. E nós como estamos?        

             

Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

1 Comments

  1. Claudia Paes Leme disse:

    Texto brilhante!

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