Uma mulher acima de qualquer suspeita

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Uma mulher acima de qualquer suspeita

Uma mulher acima de qualquer suspeita.

Uma prerrogativa de quem é dono de seu próprio negócio, é ter a certeza de que suas desculpas sobre atrasos, nunca serão contestadas.
Naquela manhã Omar chegou no escritório com mais de hora de atraso. A culpa exclusiva era da esplendida noite de amor que Dagmar lhe proporcionará.
O relógio tocou Omar abriu os olhos, mas seu corpo não reagia. Ainda estava entorpecido pelo prazer, pelo imenso prazer que naquela tórrida madrugada aconteceu.
O casal adormeceu ainda cedo, assistindo TV. Como se tomada por alguma entidade diabólica Dagmar acordou Omar aprisionando seu pinto em sua boca, sugando fortemente.
Semi acordado, mas super excitado, Omar via na penumbra uma deusa, ou seria uma diaba, completamente nua, contorcendo seu corpo e emitindo confusos grunhidos que vinham de muito além da sua garganta. Era o útero, era a reserva de libido da Dagmar que se manifestava.
Ativa como pouquíssimas vezes, Dagmar iniciou um bailado inusitado. Ela apresentava uma dança que em seu semi sonambulismo Omar classificou como sendo a sensual dança dos véus, praticada pelas odaliscas seduzindo o sultão do palácio.
Na verdade os movimentos não eram tão acrobáticos, afinal o que mais excitava Omar é que Dagmar estava sobre seu corpo, aprisionando seu membro com uma intensidade absurda.
Poderia ser até delírio, mas Omar sentia que aquele aprisionamento era único, inédito, incomum e delicioso.
Ser cavalgado sempre foi uma posição sexual muito favorável, Omar obtinha extraordinário prazer, mas não tinha sua ejaculação precipitada.

A concentração de Omar no trabalho não estava sendo fácil. Chegou, adentrou sua sala, foi servido de um café, mas assim que sentiu o conforto de sua poltrona, sua mente teimou em rememorar sua marcante madrugada.
Uma sua assessora abre a porta e lhe entrega sua agenda. Quando um homem está seduzido por seus pensamentos, a presença de alguém sempre causa constrangimento. O homem pensa que a excitação manifesta em seu corpo está sendo notada. E assim depois do sobre salto, Omar vagarosamente se engajou no trabalho.

No intervalo para almoço, a TV do escritório foi ligada e as meninas escolheram assistir um programa de “debates e depoimentos”. O som chegava até a sala de Omar que acabou ficando curioso com uma fala quase histérica de um gordo afeminado que defendia uma tese interessante sobre a qualidade da sexualidade de uma mulher que mantêm um amante.
Argumentando enfaticamente em sentido contrário a todos os presentes, ele defendia uma tese no mínimo surpreendente. Vejam.
            – Claro, está claríssimo. É a soma de duas grandes forças. De um lado a totalidade da sexualidade da fêmea redescoberta, repaginada, sendo vivenciada de uma maneira diferente, saindo da mesmice de um relacionamento tedioso. De outro a tensão de não ser descoberta, de se preservar, a incerteza sobre seus passos. Então ela tenta tanto ser autêntica, mostrar normalidade e principalmente deixar aceso seu interesse pelo parceiro que se desdobra. Ela se desdobra tanto em se mostrar a mulher apaixonada de ontem que acaba trazendo para o seu relacionamento conjugal os incrementos, os experimentos da sua relação extraconjugal. É dessa conjunção que surge a Super Fêmea.
O desabrochar da Super Fêmea, como toda flor tende a fenecer, mas enquanto existe mostra a exuberância da natureza e se torna insuperável na cama. E ai que está a grande contradição. Ela é muito mais grandiosa na cama do marido.

A teoria defendida pelo pretenso antropólogo, causa impacto em qualquer um. Com Omar não foi diferente, sua mente acabou registrando aquela opinião. E como a imaginação humana é fértil, associar a teoria, com o desempenho de Dagmar naquela madrugada, acabou acontecendo.
Sua mente passou a procurar resposta para a questão. Teria, nessa madrugada, Dagmar ter sofrido um súbito ataque da Super Fêmea?
Num primeiro momento o pensamento era somente uma forma superficial, mas a dúvida, a curiosidade ficou muito forte quando o telefone tocou.
– Estou ligando só para você não ficar preocupado. Tenho dentista, hoje o procedimento deve ser longo. Vou ficar com o telefone desligado para não incomodar.
Era Dagmar prestando conta de como passaria sua tarde.
Omar recebeu o recado com serenidade, mas isso durou muito pouco tempo. O vírus da desconfiança foi dominando a mente de Omar que em minutos ficou terrivelmente abalado.
Demorou muito pouco tempo, para Omar fazer uso de sua prerrogativa de patrão, dar uma desculpa esfarrapada e sair do escritório. Sem uma ação planificada, se dirigiu para sua casa. Parou instintivamente o carro mais de um quarteirão de distância, mas com total visibilidade da sua residência. Tentou elaborar um plano de ação. Na verdade, ele não tinha a menor ideia do que queria fazer, apenas estava obcecado pela dúvida e pelo ciúmes.
O portão da garagem se levantou, o carro de Dagmar saiu e ela vinha em sua direção. Omar dobrou o corpo, tentando se esconder e rezando para que Dagmar não prestasse atenção nos carros estacionados.
Como ela não parou, Omar ficou com a quase certeza de que não havia sido notado. De forma discreta, cautelosa, manobrou o carro e seguiu Dagmar.
Uma mente dividida. Uma porção se entendia numa atividade quase criminosa, seguir, desconfiar da mulher que nunca havia lhe dado motivo para nenhuma suspeita. Outra parte de sua mente insistia que era melhor conhecer a verdade. Até mesmo uma certa excitação ocorria em seus pensamentos. Uma porção atrevida de sua mente começou a imaginar como seria Dagmar se entregando a outro homem.
Omar brigava com todas as tendências, tentava se concentrar para não perder Dagmar de vista, nem ser visto por ela.
Rua calma, não muito distante. Dagmar estaciona o carro, com muita calma atravessa a rua e entra num edifício comercial. O prédio tem uma loja de utilidades no pavimento térreo e uma entrada lateral que conduzia ao pavimento superior onde um letreiro de bom gosto identificava uma clínica dentária.
A mente de Omar começou um processo de descompressão. A mulher com quem dividia sua vida estava realmente indo ao dentista. De forma descontraída Omar sai do carro, senta-se no paralama do carro e aprecia a calma do lugar, respirando uma gostosa sensação de alívio, com uma dose de culpa por ter duvidado da fidelidade de Dagmar.

No consultório, Dagmar e o dentista trocam cumprimentos. Ela se aproxima da janela frontal e com a máxima discrição abre minimamente a persiana. Vê o carro de Omar estacionado, desabotoa dois botões de sua blusa, estende a mão ao dentista e diz.
– Me beija muito, me trata hoje como uma vadia. Mesmo com a persiana fechada, expõe seus peitos na janela como se quisesse dar um claro recado ao marido espectador. 
Omar, convicto da fidelidade da esposa volta para o carro. Volta ao escritório delirando excitado com uma próxima quentíssima madrugada e deixando para Dagmar a certeza que ela poderá seguir se encontrando com seu amante agora com absoluta segurança.

 

 

 

 

 

Cako Machini
Cako Machini
Desde 1953 também responsável pelo mundo que vivemos. Publicitário, marqueteiro, empresário. Criativo, amante das artes. Resolvido a viver o Outono de sua Vida junto a natureza, priorizando as palavras e as viagens.

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